quarta-feira, 6 de abril de 2011

A TRAGÉDIA DO OUTEIRO

Theo Silva

Longe, no outeiro da serra,
Com a alegria da terra
Que dá o fruto e a raiz,
Numa casinha pequena,
Com uma viola morena,
Vivia um caboclo feliz.

Em noites claras de lua
Quando o silêncio flutua
Nos arvoredos em flor,
Se ouvia a viola gemer
E o dono dela fazer
Toadas pra seu amor.

Mas a vida é diferente
E o destino não consente
Aquilo que a gente quer,
E quando a gente não espera
Vai cair na esparrela
Dos olhos d’uma mulher.

Foi o que aconteceu.
Sem saber como, morreu
O caboclo cantador,
Esse caboclo que amava
A viola que contava
Histórias do seu amor.

Numa noite de São João
O ciúme, o grande tição,
Queimando sem ninguém ver,
Fez seu melhor camarada
Numa raiva desgraçada,
Mata-lo pra não sofrer.

Chamando pra ele ir
Uma novena assistir
E alegrar uma função,
O esperou numa estrada
Na boca d’uma emboscada
E o feriu no coração.

Quando ele vinha vindo
Com sua viola sentindo
Os encantos do amor,
Recebe um tiro certeiro
Cai a viola primeiro
E depois o cantador.

E de manhã bem cedinho,
Quando o sol devagarzinho
Acordou se espreguiçando,
Veio encontrar na estrada
Uma viola espedaçada
E uma morena chorando.

*Theo Silva é um dos Patronos da Academia Cabense de Letras

Nenhum comentário:

Postar um comentário