sexta-feira, 28 de outubro de 2011

SEXTA DE LETRAS

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

AO DESCONCERTO DO MUNDO


Luis Vaz de Camões
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o mundo concertado.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

SEXTA DE LETRAS

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

CELINA DE HOLANDA


AS VIAGENS

Viajo nos livros que faço,
mas sempre torno,
para escrevê-los
onde a vida
é uma menina pobre chorando
entre as moitas.
Trago-a de volta
ao seu colo, sua casa,
até que venha e me leve
o meu amado.


RETORNO

Este chão é pausa.
Dêem-me a infância
para que eu retorne
reencontre meu chão,
seu verde, seus marcos,
seu barro plasmável.

Quero saber de novo
de terreiros limpos
com vassouras verdes

do tempo correndo
branco como um rio,
carregando as roupas
qual nuvens mais alvas.

Massapê das margens,
sapatos de lama,
toalhas de vento
e o regresso limpo,
lento como a tarde.

O CICLO


Na sala o espelho,
a rua na sala, a moça
o relógio ao contrário.
A moça decide o cabelo
à altura do amado,
que decide o seu sol
à altura da vida, de muros
tão altos.

MERIDIANO


Vivemos a grande noite.
Cada amor em seu amor
se oculta.
Quem nos roubou a ternura
escondida? O corpo claro
e diurno?
Como os animais e as crianças
um dia a vida será só vida

CELINA DE HOLANDA era jornalista e poeta, nasceu no engenho Pantorra no município do Cabo de Santo Agostinho em 19 de junho de 1915. É a atual patrona da Academia Cabense de Letras.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

UM MUNDO ÍNDIGO!


Tremei tiranos e transgressores dos valores humanos! As redes e ruas captaram o inconsciente coletivo, que sem líderes e bandeiras avançará como  um Tsunami, buscando uma nova ordem que varra do planeta a corrupção, não só econômica, mas a que degrada o sentido maior do exercício da política, que está ligada umbilicalmente, à ética e ao sagrado direito de um pertencimento à um mundo melhor!

 Como novos apóstolos, os computadores agregarão multidões sedentas de justiça, num movimento irreversível, já plasmado na nova egrégora planetária, que não suporta a acumulação de bens materiais de uma minoria em detrimento de bilhões de seres sem o mínimo necessário para a sobrevivência!  

O eixo da terra, perigosamente verticalizado, atua nos corações e mentes que pressentem a abertura do último selo do apocalipse, o Armagedom espiritual, a perpetuação da espécie colocada em risco pelo terror nuclear. Crianças índigo e cristal com códigos genéticos revolucionários trazendo aos velhos valores, talvez a derradeira oportunidade de uma nova era, de um planeta onde a ciência e a religião caminhem unidas na criação de um novo sentido para a nossa existência!
Nenhuma força armada conterá essa indignação coletiva, que crescerá sem retorno, movida  sem táticas ou estratégias, em círculos e mandalas, desarticulando as carcomidas e decadentes estruturas mundiais de poder, perplexas com a "não organização" desses benditos amotinados, que ocupam, cada vez mais, praças e ruas, becos e jardins, edificando - que assim seja - a verdadeira Terra Prometida! (Carlos Vereza)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

QUE TIME É ESSE?

  
DOUGLAS MENEZES/ OUTUBRO DE 2011

         Que time é esse, que mesmo no porão do futebol brasileiro, mantém a maior média de público das quatro divisões do país, suplantando todos os clubes ricos e de torcida do Brasil? Que time é esse, que dois dias depois de uma declaração de um desastrado presidente, afirmando que o clube iria se acabar, o estádio lotado grita numa só voz: acaba não, santa, acaba não, santa!? Que time é esse que faz um inglês de passagem pelo Recife se apaixonar de tal maneira pelo clube, a ponto de deixar o time milionário de sua terra e afirmar: o santa me leva do amor ao ódio, numa paixão sem medida? Que time é esse que quando se espera sua vitória, ele perde: e quando se dá o contrário ele vence? Que time é esse, que leva um pobre vendedor de raspa-raspa a fincar uma bandeira em sua carroça, num pequeno som repetir os gols memoráveis e gritar insistentemente: ele está vivo, ele está vivo? Que time é esse, que faz uma jovem chorar convulsivamente, depois de mais um rebaixamento, num comovente desespero de amor não correspondido: eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio!? Que time é esse, que após a saída do fundo do poço do futebol é ovacionado em todo o país, com as emissoras fazendo elogios emocionantes e parte da imprensa mundial espantada com a paixão da torcida? Que time é esse, cujo torcedor infantil chega a declarar: se você acabar eu morro, pra vê-lo jogar no céu? Que time é esse, que,  falido, foi adotado pela torcida e se mantém sem nenhuma benesse de grandes patrocinadores, ou instituições como o clube dos treze? Que time é esse que leva multidões até para a Copa Pernambuco?  Que time é esse que me faz já um homem maduro sofrer num estádio como um pobre diabo, ligar e desligar constantemente um rádio, como se isso resultasse numa vitória?  Que time é esse, que me faz um avô quase sessentão virar criança, sorrir e chorar feito menino?
DOUGLAS MENEZES é tricolor de coração, professor e membro da Academia Cabense de Letras.


 

RAIMUNDO CARRERO


Autor de “A minha alma é irmã de Deus”, vencedor do Prêmio São Paulo 2010:

“É verdade, todo escritor tem uma má influência. Ou seja, um autor, um escritor, que mesmo sendo genial interfere de modo significativo na vida de um iniciante. No meu caso, a má influência veio – e vem – de João Guimarães Rosa. Cheguei a escrever um livro inteiro de contos – chamava-se ‘O domador de espelhos’ – que foi enviado à Editora Civilização Brasileira por um amigo consagrado, cujo nome prefiro esconder. Ênio Silveira, o editor, recusou-o, alegando exatamente isso: é uma imitação estúpida de Guimarães Rosa e nada mais. Tinha razão. Tive que esquecer o criador de ‘Grande sertão: veredas’ por muito anos. E, ainda hoje, guardo distância. Basta lê-lo numa manhã e à tarde já estou repetindo todos os seus cacoetes. Vade retro, mineiro!”



BISPO RECUSA COMENDA E IMPÕE CONSTRANGIMENTO AO SENADO FEDERAL


Num plenário esvaziado, apenas com alguns parlamentares, parentes e amigos do homenageado, o bispo cearense de Limoeiro do Norte, Dom Manuel Edmilson Cruz, impôs um espetacular constrangimento ao Senado Federal.    
Dom Manuel chegou a receber a placa de referência da Comenda dos Direitos Humanos Dom Hélder Câmara das mãos do senador Inácio Arruda (PCdoB/CE). Mas, ao discursar, ele recusou a homenagem  em protesto ao reajuste de 61,8% concedido pelos próprios deputados e senadores aos seus salários.

“A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi Dom Hélder Câmara. Desfigura-a, porém. De seguro, sem ressentimentos e agindo por amor e com respeito a todos os senhores e senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la”.

O público aplaudiu a decisão. O bispo destacou que a realidade da população mais carente, obrigada a enfrentar filas nos hospitais da rede pública, contrasta com a confortável situação salarial dos parlamentares. E acrescentou que o aumento “é um atentado, uma afronta ao povo brasileiro, ao cidadão contribuinte. Fere a dignidade do povo brasileiro que com o suor de seu rosto santifica o trabalho diário". Publicação do Jornal Folha do Recôncavo

sábado, 15 de outubro de 2011

SÓ DE PASSAGEM ...


Conta-se que no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo no Egito, com o objetivo de visitar um famoso sábio.
O turista ficou surpreso ao ver que o sábio morava num quartinho muito simples e cheio de livros.
As únicas peças de mobília eram uma cama, uma mesa e um banco.
- Onde estão seus móveis? Perguntou o turista.
E o sábio, bem depressa olhou ao seu redor e perguntou também:
- E onde estão os seus...?
- Os meus?! Surpreendeu-se o turista.
- Mas estou aqui só de passagem!
- Eu também... - concluiu o sábio.

"A vida na Terra é somente uma passagem... No entanto, alguns vivem como se fossem ficar aqui eternamente, e se esquecem de ser felizes."

"NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA  ESPIRITUAL,  SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA"

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

REFLEXÃO INDÍGENA


Um velho índio descreveu certa vez em seus conflitos internos: "Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Os dois estão sempre brigando..." Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu: "Aquele que eu alimentar".

Deus colocou a cabeça mais alta do que o coração para que a razão pudesse dominar o sentimento.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

JOÃO E MARIA


Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava o rock para as matinês

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido
Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?


À Espera do Último Girassol

 

A Luiz Carlos Monteiro
 
Podar o sonho, recriá-lo
no chão batido da alma
entre nuvens e jardins
entre rimas e cantos
e lábios e voz.

Podar o amanhã, reinventá-lo
à luz de uma nova batalha
entre mãos que sangram
e corações que pulsam.
 
Podar a esperança, renová-la
ao sol de cada manhã
entre brotos, folhas,
flores e frutos,
à espera do último girassol.

*Natanael Lima Jr. é poeta e membro da Academia de Estudos Literários e Linguísticos/Anápoles-GO e da Academia Cabense de Letras.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

SER CRIANÇA É ASSIM...


Ser criança é assim... Correr até acabar o fôlego, rolar pelo chão sem medo de se sujar, falar o que vier na cabeça e fazer de qualquer coisa uma brincadeira. Época da vida da qual temos saudades quando envelhecemos. E é exatamente nesta data dedicada a todos esses pequenos seres, que têm a inocência como principal característica, que devemos não só valorizar a vitalidade infantil, como também procurar resgatar a essência da criança.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

APRENDA COM SEUS ERROS E MELHORE SUA INTELIGÊNIA


Sua inteligência é fixa?
Quando você pensa em sua própria inteligência, você imagina a sua inteligência como um dado fixo - “Eu sou ‘deste tanto’ inteligente”. ' - ou como alguma coisa em construção - "Fico mais inteligente à medida que estudo."?
Pesquisadores usaram um equipamento de monitoramento das ondas cerebrais para demonstrar que as pessoas que acreditam que podem aprender com seus erros têm reações cerebrais diferentes daquelas que acreditam que sua inteligência é fixa.
"Uma grande diferença entre as pessoas que pensam que a inteligência é maleável e aqueles que pensam que a inteligência é fixa está na forma como eles respondem aos próprios erros," explica o Dr. Jason Moser, da Universidade do Estado de Michigan (EUA).
Reconhecendo os próprios erros
Segundo os pesquisadores, as pessoas que acreditam que a inteligência é um edifício em construção reconhecem mais facilmente os erros e se esforçam para aprender mais.
Por outro lado, aquelas que acreditam que a inteligência é algo fixo perdem as oportunidades de aprender com os próprios erros.
Isto pode ser um problema para a vida toda, mas pode ser facilmente percebido na escola. Segundo os cientistas, aqueles que acreditam que a inteligência é fixa são facilmente reconhecíveis porque não se esforçam mais depois de terem saído mal em um exame.
Nos experimentos, os cientistas primeiro aplicaram uma série de testes onde era muito fácil cometer erros. Durante os testes, os voluntários tiveram seus sinais cerebrais monitorados.
Ao final, cada participante foi entrevistado, para que se avaliasse qual era sua visão sobre a inteligência: fixa ou em construção permanente.
Sinais neurais
Quando uma pessoa comete um erro - qualquer que seja sua visão sobre a inteligência - são gerados dois sinais neurais muito rápidos, cerca de um quarto de segundo depois que a pessoa é avisada de seu erro.
O cérebro das pessoas que aprendem com os próprios erros gera um segundo sinal muito mais forte.
Isso parece acender uma luz de alerta porque, em seguida, eles passam a errar menos.
Para o segundo grupo, que tem maior dificuldade em reconhecer os próprios erros, o desempenho manteve-se constante durante o teste, apesar dos erros cometidos.
Segundo os cientistas, esta pesquisa pode ajudar no treinamento das pessoas para que elas reconheçam que podem se esforçar mais para aprender mais - sem precisar de muitos argumentos, apenas mostrando o que acontece em seus cérebros.

“Um erro deve ser corrigido, e não punido”, frase dita pelo filósofo Mario Sergio Cortella.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

INICIAÇÃO - FERNANDO PESSOA



Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
 
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
 
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
 
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
 
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
Neófito, não há morte.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O ENIGMA DA RELIGIÃO


Tem prosseguimento o Projeto Sexta de Letras, da Academia Cabense de Letras, nesta sexta-feira, 7 de outubro, com a palestra do acadêmico Pastor Erivaldo Alves. O evento acontece no Teatro Barreto Júnior, Cabo de Santo Agostinho, e o tema abordado é O ENIGMA DA RELIGIÃO, com base na obra do escritor Rubem Alves.

Rubem Alves é mineiro, é Teólogo e Psicanalista e suas obras são reconhecidas em diversos países, sempre com destaque. O ENIGMA DA RELIGIÃO é, talvez, a sua obra mais polêmica e discute "por dentro" a relação homem/religião. Tem causado polêmica nos meios religiosos no Brasil e em diversos países, o que antecede a perspectiva de um debate interessante no Sexta de Letras que acontece amanhã.

O palestrante da noite, Erivaldo Alves, é formado em Teologia e Filosofia, Pastor Titular da Igreja Evangélica Batista do Cabo (Cohab) e membro da Academia Cabense de Letras.

O Sexta de Letras de amanhã terá a participação do Quarteto Massagana, de Clarinetes, formado por jovens músicos cabenses, oriundos da Escola de Música Ladislau Pimentel.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

GRACILIANO RAMOS, A VISÃO DE MUNDO DE UM CIDADÃO-ESCRITOR

Click e acesse
Por Douglas Menezes
A imagem de pedra em cascalhos ultrapassa a simplória fronteira dos olhos sertanejos, acostumados apenas àquela cor que nem é branco nem cinza: uma cor própria do sertão
Arco-íris nenhum jamais essa cor fará parte. A alma de quem lá nasceu não é senão uma continuidade do clima e da paisagem quase nunca esverdeada. E por mais que se queira expressar tão somente sentimento, a força bruta do natural se impõe com todo vigor. O homem é taciturno, parado, de olhar duro, porque tudo em sua volta é rígido e parado: jeito impiedoso que o sertão tem na convivência com os nascidos por lá.
E reside aí, sem mar e como muito sol, um dos paradoxos daquelas paragens: a miséria, a dor estigmatizante, a falta de qualquer perspectiva em vez de tornarem o ser em alguma coisa amolecida, tornam-no, isto sim, num hercúleo homem subdesenvolvido. Onde ele, assim nesse estado; onde ele, com um fardo de toneladas sobre os ombros, só osso; onde ele, esquecido pelos poderes divinos e humanos, consegue represar tanta força para encarar a existência? Enigma esse, pois o que leva a enfraquecer, nele fortalece.  




O estranho relacionamento homem-ambiente, em que a inclemência, antes de ser um objeto de distância, aproxima, como uma relação amorosa mórbida, nos atrai e nos faz questionar sobre a força mística que cerca o sertanejo. A ignorância pode levá-lo ao divino; mas a semelhança áspera do seu torrão leva-o, também, à inevitável comparação com a terra onde nasceu o Filho do Homem. Escolhido será o que sofre aqui, pois, com certeza, um reino de pão e mel o aguardará no duvidoso paraíso, que o cético hesita em pintar.
Não faz mal. Tanto faz a Judeia como Salgueiro, os sulcos em cada rosto extrapolam a mera convenção regional: o homem é um e todos em qualquer lugar. A soma de províncias faz a universalidade da alma humana. As águas do Reno são amareladas e doces, como as do Una em tempo de bom inverno e verão ameno. Pois não é verdade que a fome daqui, que mata crianças tão tenras ainda, é a mesma que nas estradas arrasta os molambos africanos de olhos e vértebras à mostra? A dor é uma linguagem universal. Equivocada a ideia de fechá-la num espaço de um lugar. Amplia-se a fronteira de nossa província-mãe. Aniquilam-se as porteiras que não nos deixavam ver os currais vizinhos. O mundo é um grande cercado. Mudam-se as roupas; mas todo vaqueiro tem o chapéu, o olhar trancado e o cheiro de vaca, que são comuns a todos. O resto é não ter noção de humanidade.




O carcará sobrevoa. O borrego novinho nem desconfia. É sagaz o bastante para ganhar fama no sertão. Tempo não houve para o gadinho crescer e, claro, morrer de fome na terra estorricada. Já o sangue espirra por todos os lados. Apenas um estremecimento, suculenta a carne fresca. Devorada em alguns minutos. A lei do mais forte prevalecendo. Cabramacho no sertão, quem vive nele tem de ser.


O menino viu tudo, não há como esconder o rosto, cegar a vista que o sol acostuma à luz intensa. O menino viu, sim. Forjou o caráter do menino a vida endurecida. A rudeza agreste dos pais. Cedo, tão cedo formou um calo emocional. E apesar de tudo, tornou-se uma criatura que foi um misto de imagem seca, aparente aspereza, com um profundo sentimento de humanidade. Assim se deu o milagre. Um predestinado. A natureza não deixa o meio interferir na vida dos eleitos. Aquele clima da infância só de leve influenciando sua mente. Observador, tirou lições do que assistiu, para contribuir com um possível mundo melhor. É bem verdade, a seu modo: lâmina fria, que não corta, porém. Comedido, parcimônia necessária, falar só o suficiente: não paga a pena um floreio estéril. Pedra fértil, Graciliano; rocha bondosa. Líder não era. Popular também não, como um Jorge Amado. Fez uma literatura a serviço do povo, contudo.
AFIRMAÇÃO DE PERSONALIDADE  
 
Foi, no entanto, em suas Memórias do Cárcere, antes chamadas Cadeia, que Graciliano Ramos demonstra a afirmação de uma personalidade que causa ainda hoje admiração a quem o conheceu e do público leitor. No momento tenso que viveu, quando a maioria se desespera e muitos dão cabo da própria vida, ele expressou uma altivez, uma serenidade como poucos. Confinado em ambientes sórdidos, tratado absurdamente como um pária social, convivendo com toda espécie de indignidade humana, em nenhum momento pareceu abalado. Dá-nos a impressão de estar num mosteiro, ou numa casa de repouso, tal a tranquilidade deixada transparecer. Parecia um observador distante, um frio repórter isento de qualquer ligação com o que presenciava. Vivendo intensamente aquela tragédia moral, centro mesmo das atenções, foi um jornalista e, sobretudo, um filósofo daquela situação. Compadeceu-se com o drama dos companheiros, nunca com o seu. Caráter temperado a ferro, possuía uma estranha nobreza. Um autodidata do verdadeiro humanismo. Não precisou de universidade para aprender o relacionamento civilizado. Provou isso nas fases mais difíceis da vida. Não cultivou mágoas, merecidas se as tivesse. Nunca uma palavra agressiva para os inimigos, para os ditadores intolerantes, para os carrascos incultos, até mesmo pela função que exercem. No cárcere, o cidadão reafirmou o excelente caráter; no texto, o grande escritor de nossas letras. O insuperável clássico que o tempo não apagará jamais.



Ser comprometido não é fazer comício por meio das letras. Pelo contrário, essa atitude pode, de fato, encobrir um mau escritor e muitas vezes evidenciar uma atitude falsificada diante da vida.
 * Douglas Menezes é professor da rede oficial e particular de Pernambuco. Especialista em literatura brasileira e membro da Academia Cabense de Letras.

MAESTRO JOÃO CARLOS MARTINS NO CABO

Maestro João Carlos Martins

A cidade do Cabo de Santo Agostinho recebe neste sábado, 08 de outubro, às 19:30 horas, a Filarmônica Bachiana Sesi - São Paulo, sob a regência do famoso maestro João Carlos Martins.

O evento é uma promoção da EUCATEX, que comemora 60 anos de fundação, com o apoio da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho. O concerto acontece no Largo da Estação Ferroviária, sendo uma oportunidade única de assistir uma Orquestra de renome, sob a regência de um dos expoentes na arte de reger.

TRIBO DE JAH‏ NO ASA BRANCA

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES

Luis Vaz de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

DESABAFO

Na fila do supermercado, o caixa diz uma senhora idosa:
- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente.
A senhora pediu desculpas e disse:
- Não havia essa onda verde no meu tempo.
O empregado respondeu:
- Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com  nosso meio ambiente.
- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.
Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões.
Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.
Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?
Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plastico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.
Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lámina ficou sem corte.
Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só  uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.
Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?