quarta-feira, 7 de agosto de 2013

HIROSHIMA SEM AMOR

DOUGLAS MENEZES

  O cogumelo parece sair das entranhas da terra. Como um deus sentenciando a todos. A rosa que o poeta falou: sem cor, sem brilho, sem cheiro, fabricando um jardim disforme, florido de flamejantes flores do inferno. A floresta do mal enegrecida pela intolerância do império. A história sempre foi assim: o poder não tem sentimentos. Não precisa de justificativa, a existência é feita de paradoxos: há vida, porque há morte. Na ação, todos os inocentes são culpados.
    Hiroshima não foi diferente. Hiroshima não é diferente. Ficou o mundo sob o domínio do medo. Até hoje os nascidos agora refletem o pesadelo. O argumento é forte: destruir para renascer. Hiroshima não tem amor. Dói muito, no entanto. Nascemos todos depois, mas é como tivéssemos nascidos antes. Ficar fazendo parágrafos para relembrar uma data que poderia ter sumido no tempo. Afinal, foi mais um ato histórico comum.
     Porém os eventos de outrora deixam vestígios de destruição, mas são congelados no passado, mumificam-se com o passar dos séculos. Hiroshima é outra história: o passado vive no presente e no futuro. Ainda estão nascendo os frutos daquela árvore: cancerosos, acéfalos, anencéfalos, mal pensantes, raquíticos, cegos e surdos. Hiroshima Meu Amor, a paz que reencontra o medo, o trauma, a vivência que não apaga da memória o horror. Templo nenhum que console os que surgiram pranteando aquele momento, que insiste em viver. Há mais de seis décadas Hiroshima foi o recado dado ao mundo: há sempre um rei em todos os tempos, e essa história imutável carrega o barco da humanidade de uma esperança  que deve ser a última a morrer, sem sabermos quando.
       Que se tenha em mente a necessidade de reviver. O esquecimento pode incentivar a repetição, pois eles se multiplicam como a Hidra de Lerna, da mitologia para os dias de hoje. E o dilúvio que destruiu um tempo nas águas da ira de Deus, poderá retornar trazendo não a força da enxurrada líquida,  mas a luz incandescente e envenenada do cogumelo do mal. Hiroshima, Hiroshima ....
Douglas  Menezes é membro da Academia Cabense de Letras (7 de agosto de 2013)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A VIDA É CURTA?

"Dizem que a vida é curta, mas não é verdade.
A vida é longa para quem consegue viver pequenas felicidades.
E essa tal felicidade anda por aí, disfarçada, como uma criança traquina brincando de esconde-esconde.
Infelizmente às vezes não percebemos isso e passamos nossa existência colecionando nãos: a viagem que não fizemos, o presente que não demos, a festa que não fomos, o amor que não vivemos, o perfume que não sentimos.
A vida é mais emocionante quando se é ator e não espectador; quando
se é piloto e não passageiro, pássaro e não paisagem, cavaleiro e
não montaria.
E como ela é feita de instantes, não pode nem deve ser medida em anos ou meses, mas em minutos e segundos..
Esta mensagem é um tributo ao tempo.
Tanto àquele tempo que você soube aproveitar no passado quanto
àquele tempo que você não vai desperdiçar no futuro.
Porque a vida é agora."

Revista Isto é no. 1773 24 Set. 2003 Editora Três