segunda-feira, 26 de março de 2012

DA ALMA À METALINGUAGEM

   DOUGLAS MENEZES

  Há trinta anos ouvi, encantado, pela primeira vez, a música “As Vitrines” de Chico Buarque. Algo me dizia que por trás da aparente simplicidade, da melodia fácil de ouvir e de tocar ao violão, e dos versos com palavras simples, havia um estranhamento típico de uma obra literária e musical de valor.
Pois é verdade ser o banal, o comum elemento básico a ser transformado num texto de qualidade. E a história de um homem acompanhando uma mulher pelas ruas da cidade, seguindo-a como a persegui-la não  seria nada que chamasse a atenção como um acontecimento diferente. Mas Chico é gênio, e gênio é aquele que faz do trivial alguma coisa singular.
  Música tema de uma novela da rede Globo, “As Vitrines” passou, pelo menos, seis meses na mídia nacional e, embora popular, não chamou a curiosidade do público para os seus aspectos mais criativos.
  Comecei, então, a sentir uma atração crescente sobre a melodia e a letra dessa música, um dos belos momentos da obra de  chico – difícil é encontrar um que não seja belo. Na verdade, o primeiro aspecto curioso da obra diz respeito ao distúrbio psicológico do eu lírico: um voyeur. Um obsessivo perseguidor da amada. Tara recheada de imagens poéticas belíssimas, como ao final da música, quando o perseguidor, quase vencido declara: “Passas em exposição/ Passas sem ver teu vigia/ Catando a poesia / Que entornas no chão”. E toda a música é um jogo de espelhos pela  cidade, num  constante ir e vir obsessivo. O mundo conturbado do personagem narrador é exposto por expressões que mostram o desequilíbrio existencial, a confusão de sua mente expressa por imagem textual que liga conteúdo e forma: “Na galeria, cada clarão/ É como um dia depois de outro dia/ Abrindo um salão...” . E esse descompasso fica claro em verso anterior  ao citado,  quando a forma, de novo, serve ao conteúdo confuso do comportamento do voyeur: “Nos teus olhos também posso ver/ As  vitrines te vendo passar”. As vitrines adquirem comportamento humano, personificação confirmando  a visão distorcida da personagem, a mente embotada, sem comando razoável, numa imagem colorida e poeticamente perfeita.  Interessante notar que, a todo momento, o eu-lírico busca um diálogo com o objeto do desejo, sem conseguir, no entanto: “Olha pra mim,/ Não faz assim,/ Não vai lá não...”. ao tentar a interlocutora,  sem conseguir, ele  acentua  seu  monólogo, sua solidão total, que de resto é a soledade do homem da cidade grande.
   Mas não para por aí, a genialidade de Chico. Ao colocarmos o poema à frente de um espelho  uma parte dele se transforma numa outra poesia. Texto projetando outro texto, metalinguagem pura. Observe que o reflexo do poema original se transfigura
Em outro: “Ler os letreiros aí troco/ Embaçam a visão marinha/  Na alegria”, indo aí até o final, como se dentro do espelho houvesse uma outra realidade, distinta da concreta.
   Por fim, na gravação original, ao ouvirmos o último verso, o arranjo expressa sons que nos remetem a palavras despencando, diluindo-se, como um brinquedo infantil formado por letras jogadas ao chão. Tudo, pura obra de arte.

Douglas Menezes é escritor, professor de Língua Portuguesa, pós-graduado em Literatura Brasileira e em Leitura, Compreensão e Produção Textual pela UFPE, membro da Academia Cabense de Letras.                          
                                           
       

sexta-feira, 23 de março de 2012

VOCÊ VERÁ QUE NÃO É FÁCIL!


Antes de julgares a “minha vida” ou meu “caráter”...
Calça os MEUS sapatos e percorre o caminho que EU
percorri,  vive as "minhas tristezas", as "minhas dúvidas",
as "minhas alegrias" !!!
Percorre os anos que e EU percorri, tropeça onde EU
tropecei e levanta-te assim como EU o fiz!!!
Cada um tem a sua própria história!!!
E então, só aí poderás "julgar-me!"
(Mário Quintana)

NEUROCIRURGIÃO PAULO NIEMEYER É ENTREVISTADO PELA REVISTA PODER


Parte da entrevista da REVISTA PODER, ao neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho (PN), quando lhe foi perguntado:

REVISTA PODER: O que fazer para melhorar o cérebro ?

PN: Vc tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, reclamando de tudo, com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter alegria. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a autoestima no ponto.

REVISTA PODER: Cabeça tem a ver com alma?

PN: Eu acredito que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma... Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo. Isto comprova que os sentimentos se originam no cérebro e não no coração.

REVISTA PODER: O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas?

PN: Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num checkup, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.

REVISTA PODER: Você acha que a vida moderna atrapalha?

PN: Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.

REVISTA PODER: Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro?

PN: Todo exagero.
Na bebida, nas drogas, na comida, no mau humor, nas reclamações da vida, nos sonhos, na arrogância, etc.
O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra.
É muito difícil um cérebro muito bom num corpo muito maltratado, e vice-versa.

REVISTA PODER: Qual a evolução que você imagina para a neurocirurgia?

PN: Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral, cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter, colocação de partículas de nanotecnologia, em que você vai entrar na célula, com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai matar aquela célula doente que te faz infeliz. Daqui a 50 anos ninguém mais vai precisar abrir a cabeça.

REVISTA PODER: Você acha que nós somos a última geração que vai envelhecer?

PN: Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos. As pessoas irão bem até morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você puder ir bem mentalmente, com saúde, e bom aspecto, até o dia da morte, será uma maravilha.

REVISTA PODER: Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você acha que isso muda o funcionamento cerebral das pessoas?

PN: O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.

REVISTA PODER: Você acredita em Deus?

PN: Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda, quando acabamos de operar, vai até a família e diz:

"Ele está salvo".

Aí, a família olha pra você e diz:

"Graças a Deus!".

Então, a gente acredita que não fomos apenas nós,
que existe algo mais, independente de religião.

quinta-feira, 22 de março de 2012

TENTE OBSERVAR ALÉM DOS TIJOLOS


Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo quarto de hospital. Um deles podia se sentar na sua cama durante uma hora, todas as  tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões. A sua cama estava junto da única janela do quarto.
O outro homem tinha que ficar sempre deitado de costas.       

Os homens conversavam horas e horas. Falavam das suas mulheres, famílias, das suas casas, dos seus empregos, dos seus aeromodelos, onde tinham passado as férias...      
E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava, passava o tempo a descrever ao seu companheiro de quarto todas as coisas que conseguia ver do lado de fora da janela.
O homem da cama do lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a atividade e cor do mundo do lado de fora da janela. A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados por entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e enormes acariciavam a paisagem e uma tênue vista da silhueta da cidade podia ser vislumbrada no horizonte.
Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava as pitorescas cenas.
Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia passar:      
Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a retratava através de palavras bastante descritivas.
Dias e semanas passaram. Uma manhã , a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida, o homem perto da janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia. A enfermeira ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo.       

Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. A enfermeira disse logo que sim e fez a troca. Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira  deixou o quarto. Lentamente, e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no cotovelo, para contemplar o mundo lá fora. Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora da janela que dava, afinal, para uma parede de tijolo!
.
O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o  seu falecido companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela. A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede. Talvez quisesse apenas passar alguma coragem pra ele...
MORAL DA HISTÓRIA:      

Existe uma felicidade tremenda em fazer os outros felizes, apesar dos nossos próprios problemas. A dor partilhada é metade da tristeza, mas a felicidade, quando partilhada, é dobrada. Se vc quer se sentir rico, conta todas as coisas que você tem que o dinheiro não pode comprar.
'O dia de hoje é uma dádiva, por isso é que o chamam de presente.'
Autor: Desconhecido

quarta-feira, 21 de março de 2012

A MAÇONARIA NO CABO DE SANTO AGOSTINHO

 Por Luiz Lacerda

A história das academias subversivas de 1817 começou em Jaboatão, no Engenho Suassuna, no Pátio do Paraíso e depois no Cabo, no Engenho Velho – Engenho Nossa Senhora Madre de Deus.

Essas academias eram consideradas pelas autoridades, como aparelho subversivo para a época. Elas se apresentavam como lojas maçônicas ou associações, como propósitos políticos republicanos emancipacionistas, obedecendo a orientação de um grupo de patriotas chefiado pelo Capitão-Mor de Olinda, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, conhecido como coronel Suassuna, um revolucionário “macho”, jaboatonense, e o também Capitão-Mor do Cabo, Francisco Paes Barreto, o famoso marquês do Recife. O Episódio de todo movimento revolucionário entrou para a história como Confederação do Equador.

O movimento recebia o aval da igreja católica e era muito bem organizado sem nenhuma suspeita das autoridades. Era a consagração do ideal republicano que tomava pé, sutil e inteligentemente inspirado na filosofia política dos franceses, que os levaram à Revolução de 1789, iniciada com a Tomada da Bastilha, em 14 de julho, sob a égide da famosa legenda: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

De 1817 a 1822, a ação das academias foi tida como promissora, mas seu fracasso adiante levou todos os participantes a grandes conseqüências. Uma boa parte fugiu, alguns foram fuzilados no Recife e outros na Bahia, a exemplo dos padres Miguelinho e Roma, além do Dr. José Luis de Mendonça e Domingos Julio Martins.

Entre os mártires dessa patriótica revolução, Francisco Paes Barreto foi enviado preso para a Bahia, onde amargou quatro longos anos nos calabouços da cadeia “Relação”, e os cabenses Damião Alves e Antônio do Monte Oliveira, que foram fuzilados.
Segundo conta o mestre Nilo Pereira “As revoluções de 1817 / 1822 não ameaçaram a unidade brasileira, assim como a expulsão do Flamengo não desfigurou a Colonização Portuguesa em seu processo de integração social, ético e político”.

A morte de Suassuna

Arrancado de seu asilo, foi Suassuna preso e metido a ferro, no porão do navio “Carrasco” e remetido com mais de 70 mártires para a Bahia. Jogado por ordem do Conde dos Arcos nos cárceres da fortaleza “Relação”, ali permaneceu quatro anos. Suassuna morria lentamente, quando as vésperas de ser executado em 10 de fevereiro de 1821, o rei concedeu anistia geral. Voltando a Pernambuco, e fortemente abatido pela doença e pelas privações da rigorosa prisão, veio a falecer oito dias depois.

Luiz Alves Lacerda – Foi escritor, pesquisador e historiador. É atualmente um dos patronos da Academia Cabense de Letras.

sexta-feira, 16 de março de 2012

OS DOIS TEMPOS DA CIDADE

                                          
Antonino Oliveira Júnior

Estou em pé, bem em frente à Igreja matriz. O olhar fixo rumo à estação ferroviária observa o burburinho enlouquecedor de pessoas, carros e motos, em idas e vindas que mais lembram trilhas de formigas a carregarem seus fardos de sobrevivência. Era a antiga rua Antonio de Souza Leão, hoje entregue ao comércio. A rua de seu Alcides, seu Claudino, seu Zequinha da Modelo, de seu João Lopes, do bar de Leo. Ninguém conhece mais ninguém. Ninguém consegue parar. Conversar, nem pensar...mas, ali, eu passava devagar, com meus amigos, vindo do Luisa Guerra e depois do Santo Agostinho...ruas vazias, quietas. As pessoas formigas continuam subindo e descendo.
Viro um pouco o corpo e a rua da matriz e a mesma agonia, o burburinho do desce e sobe, dos locutores das lojas. A rua de seu Catarino, da farmácia de seu Chico, seu Joel Alfaiate, a rua de seu Pipiu, seu Duca, de dona Cecita, a casa de seu Tune, de seu Figueiredo, a rua de tanta gente...tá lá um corpo estendido, crivado de balas, a moça que apanha do “seu amor” madrugada a dentro, aos gritos, na minha rua, a rua do garrafão, do barra-bandeira, do cine Santo Antonio, nossa diversão maior...  

O burburinho continua, ninguém sabe quem é ninguém e eu, em pé, olhando o cenário, ora virado para a estação ora virado para a igreja de Santo Amaro. Aquela mesma rua que foi a passarela dos poemas de Theo Silva, as noitadas de Epitácio Pessoa, as serestas, os desfiles ingênuos do sete de setembro.

A minha rua, com um corpo jovem estendido no chão, fuzilado. É só um jovem dos muitos sem assistência, sem lazer, sem horizontes, presa fácil das drogas, destino das balas. A mesma rua do eu menino, com meus amigos, sem medos, sem traumas. Olhei novamente para tudo e senti saudade de mim.
Antonino Oliveira Júnior  é da Academia Cabense de Letras

quarta-feira, 14 de março de 2012

MÁRIO QUINTANA EM GOTAS

Mario Quintana 
Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
O Silêncio
Convivência entre o poeta e o leitor, só no silêncio da leitura a sós. A sós, os dois. Isto é, livro e leitor. Este não quer saber de terceiros, n ão quer que interpretem, que cantem, que dancem um poema. O verdadeiro amador de poemas ama em silêncio…

Sinônimos
Esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.

Poema
Mas por que datar um poema? Os poetas que põem datas nos seus poemas me lembram essas galinhas que carimbam os ovos…
O Trágico Dilema
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…

Pequeno Esclarecimento
Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio – um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio… Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.
Do Estilo
O estilo é uma dificuldade de expressão.
Da Observação
Não te irrites, por mais que te fizerem…
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio…
Dos Mundos
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo…
Decerto não gostou lá muito do que via…
E foi logo inventando o outro mundo.
A Verdadeira Arte de Amar
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali…
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
Destino Atroz
Um poeta sofre três vezes: primeiro quando ele os sente, depois quando ele os escreve e, por último, quando declamam os seus versos.
Cartaz para uma feira do livro
Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
Exame de Consciência
Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?
A Grande Surpresa
Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo…
Evolução
O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.
Música
O que mais me comove em música
São estas notas soltas
- pobres notas únicas -
Que do teclado arranca o afinador de pianos.
Urbanística
Como seriam belas as estátuas equestres se constassem apenas dos cavalos!
Dos Nossos Males
A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais…
Trova
Coração que bate-bate…
Antes deixes de bater!
Só num relógio é que as horas
Vão passando sem sofrer.
Dos Milagres
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo…
Nem mudar água pura em vinho tinto…
Milagre é acreditarem nisso tudo!
Das Escolas
Pertencer a uma escola poética é o mesmo que ser condenado à prisão perpétua.
Cuidado
A poesia não se entrega a quem a define.
O Pior
O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.


segunda-feira, 12 de março de 2012

EVOCAÇÃO DO RECIFE


Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois
- Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeiras
mexericos namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão

(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...
Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade...
...onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar escondido
Capiberibe
- Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferro
os caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começou
a passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe
- Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.

quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHER

            
            Por DOUGLAS MENEZES

            Não sei te dizer palavras de efeito lírico
            Muito menos flores te jogar.
            Não ouso te desvendar segredos,
            Pois o mistério guardado a sete chaves
            É a porta desse encanto sem fim.
            Só sei, mulher, que o meu verso sem graça nenhuma
            Cheio de protesto, angústia e dor,
            Ganha a dimensão de um poema épico,
            Quando te encontro na rua, em casa, no trabalho, no mundo, na vida.
            E nas palavras que antes pareciam fúteis.
            És símbolo de uma verdade eterna,
            És essência porque dás a vida.
            A poesia sem ti não tem valor de arte,
            São apenas sons sem sentido certo,
            São coisas somente.
            Eu te agradeço, então, mulher,
            Pelo sorriso sempre tão claro,
            Por este rosto bem iluminado.
            E num mundo onde as rosas  quase todas morreram,
            Onde o amor é sofrimento só e dor,
            Eu descubro as estrelas do céu,
            E as acho bonitas.
            Não porque sejam belas em si mesmas
            Mas porque são femininas.
                                                                
            Douglas  Menezes é da Academia Cabense de Letras

segunda-feira, 5 de março de 2012

FRAGMENTO DO ACASO

Sem gravidade flutuam
Estilhaços de um espelho
E cada parte reflete
Um fragmento do acaso.

Giram dando a impressão
De serem um universo
E são, de certo, mil vezes,
A expressão original

De uma parte perdida
A se olhar eternamente
Ali, imagem pra sempre,
Como se fosse real.

E menos se vê no mundo

E no mundo só se vê.
Entérica alegria
Buscando a rima vazia
De não ser, só parecer.

Este poema foi selecionado para antologia do SINTEPE em 2009, para a antologia Amigos do Livro da Editora Scortecci (2010) e para a antologia Pernambuco: Terra da Poesia da editora Carpe Dien (2010).

Ivan Marinho é da Academia Cabense de Letras.

MEDINDO AS RIQUEZAS DO SER HUMANO!!

Por  Armando Fuentes Aguirre (Catón)
Tenho a intenção de processar a revista "Fortune", porque fui vítima de uma omissão inexplicável. Ela publicou uma lista dos homens mais ricos do mundo, e nesta lista eu não apareço. Aparecem: o sultão de Brunei, os herdeiros de Sam Walton e Mori Takichiro. 
Incluem personalidades como a rainha Elizabeth da Inglaterra, Niarkos Stavros, e os mexicanos Carlos Slim e Emilio Azcarraga.
Mas eu não sou mencionado na revista.
E eu sou um homem rico, imensamente rico. Como não?  vou mostrar a vocês: Eu tenho vida, que eu recebi não sei porquê, e saúde, que conservo  não sei como.Eu tenho uma família, esposa adorável, que ao me entregar sua vida me deu o melhor para a minha; filhos maravilhosos, dos quais só recebi felicidades; e netos com os quais pratico uma nova e boa paternidade.

Eu tenho irmãos que são como meus amigos, e amigos que são como meus irmãos.
Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos meus defeitos, e a quem amo apesar dos meus defeitos.   

Tenho quatro leitores a cada dia para agradecer-lhes porque eles leem o que eu mal escrevo.       

Eu tenho uma casa, e nela muitos livros (minha esposa iria dizer que tenho muitos livros e entre eles uma casa).        

Eu tenho um pouco do mundo na forma de um jardim, que todo ano me dá maçãs e que iria reduzir ainda mais a presença de Adão e Eva no Paraíso. 

Eu tenho um cachorro que não vai dormir até que eu chegue, e que me recebe como se eu fosse o dono dos céus e da terra. 

Eu tenho olhos que veem e ouvidos para ouvir, pés para andar e mãos que acariciam; cérebro que pensa coisas que já ocorreram a outros, mas que para mim não haviam ocorrido nunca.  


Eu sou a herança comum dos homens: alegrias para apreciá-las e compaixão para irmanar-me aos irmãos que estão sofrendo.
E eu tenho fé em Deus que vale para mim amor infinito.      

Pode haver riquezas maiores do que a minha?      
Por que, então, a revista "Fortune" não me colocou na lista dos homens mais ricos do planeta? "   
 

E você, como se considera? Rico ou pobre?                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

"Há pessoas pobres, mas tão pobres, que a única coisa que possuem é ... DINHEIRO".  
                                                                                                                   

quinta-feira, 1 de março de 2012

JOVEM POETISA LANÇARÁ LIVRO NO INTERNACIONAL DIA DA MULHER

Fonte:Divulgação
No próximo dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, a enfermeira e poetisa Valéria Saraiva irá lançar o livro Lírios, Tulipas e Escorpiões, as 19h na livraria Poty Livros(Rua do Riachuelo, 202. Boa Vista ), situada ao lado da Faculdade de Direito do Recife.

No conteúdo, fruto de uma compilação de poesias ao longo de sua trajetória literária a poetisa divide o seu livro em três tempos, quando ela mesma a define como as principais fases de sua maturidade poética: Medievais, Modernas e Ensaios.
A autora aborda várias temáticas, como romantismo, problemas ambientais e política e, é claro, em tom de poesia desaba suas insatifações contra o descaso da preservação ambiental, como em Lembranças do Cabo (Seu primeiro Prêmio Literário), ou mesmo contra os poderosos, de acordo com Os Donos do Mundo, outra poesia um tanto ácida, cuja fisgada semelhante a do aracnídio não deixa dúvidas ao leitor quanto ao "escorpião" no título da obra.

Mas, como nem tudo é veneno, Valéria também reserva flores para o público, presenteada em poesias de suas fases mais românticas, como em Lado a Lado, e Sempre.

"Publicar Lírios, Tulipas e Escorpiões nesse momento é a realização de um sonho de uma vida inteira. Vendo esse trabalho espero que o leitor entenda um pouco da minha história e do meu relacionamento com a poesia, como também encontrem em alguns momentos os lírios, as tulipas e os escorpiões no enredo da minha obra" - afirma.

Outras informações, acessem ao blog da poetisa no: www.tempoliteral.blogspot.com, ou pelo email: vcslins@gmail.com

Serviço:

Título: Lírios, Tulipas e Escorpiões
Autora: Valéria Saraivano
Data do lançamento: 8 de março, Dia Internacional da Mulher às 19h
Local: Poty Livros, no Recife.