quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A PRIMEIRA ACÁCIA

Antonino Oliveira Júnior

Não é apenas um cacho de flores,
É uma acácia...
Também não é, apenas,
Uma acácia...
É a nossa primeira,
Fecundada, cuidada, esperada
E que nasce para fazer renascer
nos corações justos e perfeitos
o amor pela humanidade.
 
Antonino Oliveira Júnior é escritor, poeta e membro da Academia Cabense de Letras.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

EPITÁFIO

Quando era jovem e livre, sonhava em mudar o mundo.
Na maturidade, descobri que o mundo não mudaria.
Então resolvi transformar meu país.
Depois de algum esforço, terminei por entender que isso também era impossível.
No final de meus anos, procurei mudar minha família, mas ela continuou a ser como era.
Agora, no leito de morte, descubro que minha missão teria sido mudar a mim mesmo.
Se tivesse feito isso, teria sido capaz de transformar minha família.
Então, com um pouco de sorte, esta mudança afetaria meu país e — quem sabe — o mundo inteiro. (Autoria desconhecida) 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

DE BREGA A “CULT”

DOUGLAS MENEZES

    Recentemente a Rede Globo incluiu na trilha sonora da novela Gabriela a música do cantor Fernando Mendes “Você não me Ensinou a te Esquecer”, canção que já fora trilha musical do filme Lisbela e o Prisioneiro, baseado na obra do grande escritor Osman Lins. Música classificada como brega romântico há trinta anos, desprezada pela intelectualidade brasileira que curte MPB de qualidade, foi sucesso à época na voz do seu autor Fernando Mendes. É interessante notar como o conceito do brasileiro médio muda de acordo não só com o passar do tempo, mas pela presença de quem “apadrinhou” o novo elemento cultural.
   Pois bem, O “monstro Sagrado”, com inteira justiça, da música brasileira Caetano Veloso resolveu dar uma roupagem nova à música. Deu um tom mais dramático à canção, incluindo uma instrumentação de nível inquestionável. O resultado foi novo sucesso da música, com algo que impressiona: sua inclusão no repertório da MPB de bares e emissoras de rádio, junto a Djavan, Chico, Gal, Betânia, o  próprio Caetano, entre  outros, incluindo aí, o público jovem, com menos de trinta anos. Quer dizer, o que não possuía valor antes, passou a ser “nata” da música romântica brasileira de qualidade.  Mostrando que os mitos realmente são intocáveis, gerando verdades nunca questionáveis, pois já se disse demais versos como estes: “ Não vejo mais você faz tanto tempo/ Que saudade que sinto; De olhar nos seus olhos sentir seu abraço/ É verdade eu não minto...”. No entanto, “Você não me Ensinou a te Esquecer”, retornou ao pódio do sucesso, inclusive por parte do público mais exigente, a ponto de a Tv colocá-la na trilha de bom gosto da nova versão do romance de Jorge Amado, junto a obras consagradas de Djavan, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Moraes Moreira e Dorival Caymmi
    Aliás, Caetano Veloso é pródigo, ao longo de carreira, em despreconceitizar  aquilo que é visto quase como tabu em nossa sociedade conservadora. Na música, fez isto, também, com Coração Materno, de Vicente Celestino e Sonhos, de Peninha, mostrando que, às vezes,  é tênue a fronteira entre o culto, de sentido elitizante, e o popular, naquilo que o povo assimila como sua cultura.

Douglas Menezes é professor cabense e Membro da Academia Cabense de Letras. Email: douglasmenezesnet@gmail.com

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

ALGUMA COISA ACONTECE...

DOUGLAS MENEZES

   Alguma coisa acontece nos corações e mentes quando um artista reconstrói o desconstruído. Faz do feio aparente, a beleza maior. Tira do lodo ou do feioso cinza, cores irradiando a vida, enxergando um sol amanhecendo naqueles dias em que a poesia parece inundar a existência. Alguma coisa acontece principalmente nos corações, quando o que poderia ser despoetizado pela evidência de um ambiente insalubre, não só feio, como até mesmo grotesco, poluído, desumano, incolor, artificial, violento, medroso. Alguma coisa acontece, principalmente nos corações, quando o que poderia ser despoetizado se torna a mais genuína expressão de conteúdo poético, pura busca de humanizar o desumano.
   “Alguma coisa acontece no meu coração/ Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João”. Caetano Veloso consegue fazer do concreto paulista, um jardim inimaginável de poesia para São Paulo. Torna humana cada fealdade expressa. Põe virtude nos defeitos cantados e comuns a todos que conhecem aquela selva. Uma verdadeira compaixão, como se tivesse pena das coisas ruins que habitam Sampa, e encontrasse nelas o sumo da vida, o adubo necessário para se construir uma humanidade. Como se a torre de babel finalmente vislumbrasse uma linguagem única, irmanando a todos, de todas as raças e idiomas, numa só nação.
   Caetano consegue musicalizar São Paulo no próprio título do poema. O samba que representa a redenção. O desfilar na melodia perfeita para o objetivo proposto. Tornou a música, simples por sinal, numa narrativa que é um roteiro para quem chega a São Paulo e sente o choque de realidade, muitas vezes tão cruel que leva o indivíduo desavisado a sucumbir e se transformar em mais um ser marginalizado na cidade grande. Um roteiro, também, para aqueles que resistem, tiram o manto do preconceito, e, a duras penas, se adaptam, começam a viver a  urbe gigantesca nos aspectos do bem, sem esconder a realidade dura, mas enfrentada pelos grandes vencedores. Não esquecendo as contradições, muitas, as dificuldades do provinciano num mundo universal: “E foste um difícil começo afasto o que não conheço/ e quem vem de outro sonho feliz de cidade /  aprende depressa a chamar-te de realidade/ porque és   o avesso do avesso do avesso do avesso”.
     Em Sampa, a sensibilidade social, a disparidade de renda, a opressão aos mais pobres, a importância de dinheiro, necessário e também destruidor: ” Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas / Da força da grana que ergue e destrói coisas belas”. E o arremate crítico, politicamente correto com preocupação ambiental: “ Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas”. E a referência do concreto paulista à concretude da poesia: “ E vejo surgir teus poetas de Campos e espaços”.
   Mas São Paulo é, ao mesmo tempo, a meca dos que desejam progredir, dos que não tiveram chance em suas terras. Simboliza a liberdade, o novo quilombo, a chance na vida. E Caê não deixou de observar isto.
   O roteiro termina de modo lânguido, carinhoso, num reconhecimento de que Sampa é humana e habitável para quem nela consegue ir além da sobrevivência . Poesia de um poeta maior: “E os novos baianos passeiam na tua garoa / E os novos baianos te podem curtir numa boa”.

DOUGLAS MENEZES É PROFESSOR, EX-SECRETÁRIO DE CULTURA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO E MEMBRO DA ACADEMIA CABENSE DE LETRAS.
EMAIL: douglasmenezesnet@gmail.com

terça-feira, 16 de outubro de 2012

"LIÇÃO" COM VERA ROCHA



Quando os vendavais da vida sacudirem os alicerces do teu lar interior,
Resiste bravamente!
Finca teus pés na fortaleza da esperança,
Na persistência da brandura,
E renova tua fé, na crença que abraças.
A Roma dos Césares só se eternizou nos corações
fragilizados pela vingança, pelo ódio,
Pelos que se excederam no orgulho, no egoísmo e na vaidade.
Aos que confiam e esperam,
Os "Licínios Minúcios", da Cidade de Corinto, 
Assim como os "Césares" de Roma, passaram e passarão,
Deixando não apenas seus nocivos rastros,
Mas uma gama de lições e aprendizados.

Vera Rocha é poetisa, professora e da Academia Cabense de Letras.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te;
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Luiz de Camões (1560)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O SÍTIO E O HOMEM


O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:
- Sr. Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que o senhor tão bem conhece. Será que o senhor poderia redigir o anúncio para o jornal?
Olavo Bilac apanhou o papel e escreveu:


"Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda".

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se havia vendido o sítio.
- Nem pense mais nisso! - disse o homem. Quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha!

Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos conosco e vamos longe atrás da miragem de falsos tesouros. Valorize o que você tem, os amigos que estão perto de você, o emprego que Deus lhe deu, o conhecimento que você adquiriu, a sua saúde, o sorriso do seu filho. Esses são os seus verdadeiros tesouros. (Desconheço a autoria)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

VIRTUDES E VÍCIOS


Wagner Veneziani Costa


Vencer minhas paixões levantando templos à virtude e cavando masmorras ao vício, eis o que viemos aqui fazer. Do caos à ordem; da obscuridade à luz.


Seria tarefa simples falar de virtude e vício em sentido literal, bastaria para isso dar o sentido filológico, mas falar de virtude e vício em sentido filosófico e maçônico é difícil.


Maçonaria não é religião nem partido político nem igreja; todavia ela põe o homem no caminho, desperta. Não oferece verdade definitiva, imutável, dogmática. Representa o livre exercício da tolerância. Aprende-se a interrogar, recolocar em questão. Graças a esse fator de progresso descobrem-se os caminhos do conhecimento e da ordem que deve reinar no domínio material e espiritual. Isto facilita ao homem desenvolver virtudes. Usa-se de processos, rituais; contatos humanos, conhecimentos, disciplina, e outros artifícios para definir no homem sua personalidade melhorada.


Virtude é passagem da paixão para ação e meditação. Uma externa outra interna. Caminho onde o homem revela a si mesmo e ultrapassa limites; encontra o "eu", o ser interno, com seus sentimentos, atos e pensamentos. Floresce a capacidade ou potência própria do homem desenvolver qualidades naturais. Desperta a virtude de valorização positiva do indivíduo, a disposição geral e constante da prática do bem. Não significa que o homem virtuoso seja altruísta ou filantropo, mas tende para tal. O homem de virtudes tem o hábito de cumprir leis e obedecer aos costumes da sociedade em que vive; socialmente correto, honesto, justo, paciente, sincero, compreensivo, generoso, prudente, corajoso e perseverante.

Maçonaria é a escola que permite controlar paixões. Faz com que se tenha domínio do "eu" e respeito ao próximo.


Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Mas não basta falar, urge experimentar, praticar. Os mais variados tipos de virtude têm de ser experimentados, vividos, compreendidos; ao menos intelectualmente. Assim como Spinoza,

"não creio haver utilidade em denunciar os vícios, o mal. Para que acusar? Isso é a moral dos tristes e uma triste moral".

A primeira e fundamental parte da virtude é a verdade, dizia Montaigne,

"A verdade condiciona todas as outras e não é condicionada, em seu princípio, por nenhuma".

A virtude não precisa ser generosa, suscetível de amor ou justa para ser verdadeira, nem para valer nem para serem devidas. Amor, generosidade e justiça só são virtudes se, antes de tudo, forem verdadeiras. Aqui surge a boa-fé; a conformidade dos atos e palavras com a vida interior ou desta consigo mesma. É respeito à verdade. Virtude sem boa-fé não é virtude. A boa-fé, como todas as virtudes, é o contrário de narcisismo, egoísmo cego, submissão a si mesmo.


Não confundir dever com virtude. Dever é coerção, virtude é liberdade, ambas necessárias.  O que se faz por amor não se faz nem por coerção nem por dever. Quando o amor e o desejo existem, para que o dever? Não amamos o que queremos, mas o que desejamos. O amor não pode ser comandado nem pode ser dever.

Nietzsche dizia:

"O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal".

A virtude não é bem, mas a força para ser e agir na prática do bem.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

SOMOS APENAS CRIANÇAS


...trabalhamos, compramos, vendemos e construímos relações sociais; discorremos sobre política, economia e ciências, mais no fundo somos meninos brincando no teatro da existência, sem poder alcançar sua complexidade. Escrevemos milhões de livros e os armazenamos em imensas bibliotecas, mas somos apenas crianças. Não sabemos quase nada sobre o que somos. somos bilhões de meninos que, por décadas a fio, brincam neste deslumbrante planeta. Augusto Cury no Livro Vendedor de sonhos, Pag. 30.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O CICLO

Ó mundo corrompido
corrompido pela politica
corrompido pela guerra
corrompido pela humanidade.

Ó humanidade corrompida
corrompida pela fome
corrompida pela desigualdade
corrompida pelo homem.

Ó homem corrompido
corrompido pelo ódio
corrompido pela inveja
corrompido pelo seu próprio mundo.

A POLÍTICA

Para falar sobre a política,
Preciso ter muita sabedoria,
Pois, magoar quem quer que seja
Não quero e jamais quereria,
Eu penso que o partido
Que deve ganhar é o bem comum
Cujos vereadores devem ser
A paz e o perdão...
Acho que a prefeitura deve ser,
O nosso coração,
A nossa cidade deve ser,
A nossa personalidade,
O programa de governo deve ser,
A caridade e a liberdade que devem
Consistir em fazer o que se deve, e não que se quer.
Penso que a nossa sociedade deve ser a letra daquela
canção que diz: você precisa conhecer a minha terra, lá não tem guerra
Nem polícia, nem ladrão, não tem partidos de esquerda ou direita,
Todo mundo se respeita
Isso é que é Constituição.

terça-feira, 2 de outubro de 2012