quinta-feira, 29 de julho de 2010

Poemeu - A superstição é imortal


Millôr Fernandes

Quando eu era bem menino
Tinha fadas no jardim
No porão um monstro albino
E uma bruxa bem ruim.

Cada lâmpada tinha um gênio
Que virava ano em milênio
E, coisa bem mais perversa,
Sapo em rei e vice-versa.

Tinha Ciclope,Centauro,
Autósito, Hidra e megera,
Fênix, Grifo, Minotauro,
Magia, pasmo e quimera.

Mas aí surgiram no horizonte
Além de Custer e seus confederados
A tecnologia mastodonte
Com tecnologistas bem safados
Esses homens da ciência me provaram
Que duendes, bruxas e omacéfalos
Eram produtos imbecis de meu encéfalo.
Nunca existiram e nunca existirão:
uma decepção!

Mas continuo inocente, acho.
Ou burro, bobo, ou borracho.
Pois toda noite eu vejo todo dia
Tudo que é estranho, raro, ou anomalia:
Padres sibilas
Hidras estruturalistas
Ministros gorilas
Avis raras feministas
Políticos de duas cabeças
Unicórnios marxistas
Antropólogas travessas
Mactocerontes psicanalistas
Cisnes pretos arquitetos
Economistas sereias
Democratas por decreto
E beldades feias
Que invadem a minha caverna
E me matam de aflição
Saindo da lanterna
Da televisão.

Com a publicação do "poemeu" acima comemoramos os 79 anos de nascimento do autor. Foi extraído do livro "Millôr Fernandes — Poemas", L&PM Editores - Porto Alegre, 1984, pág. 92.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

POR QUE OS OUTROS NÃO SÃO IGUAIS A MIM?

Luiz Marins, Ph.D.
Anthropos Consulting

" – Não consigo compreender como alguém pode pensar dessa maneira!"
" – Não adianta falar – ele(a) não entende o que eu quero dizer!"
" – Como ele(a) pode gostar disso?!"
" – Ele(a) mais parece uma lesma! Vá ser devagar assim no inferno!"
" – Às vezes penso que só eu estou certo!"

Estas e outras afirmações fazem parte de nosso cotidiano. Não é fácil reconhecer e aceitar a "diversidade humana". Homens e mulheres são diferentes, pensam de maneira diferente e agem de forma diferente. Jovens e adultos são diferentes, pensam de forma diferente e agem de maneira diferente. A verdade é que todas as pessoas são diferentes e isso é simplesmente irritante e às vezes inaceitável para pessoas egocêntricas.

As pessoas têm base genética diferente; formação e educação diferentes; histórias de vida diferentes; cresceram e se desenvolveram em meio-ambientes diferentes. Os "modelos" sobre os quais construímos nossos conceitos de certo e errado também foram diferentes para cada um de nós. Os próprios conceitos de "ética" e mesmo "moral" podem ser um pouco "diferentes" de pessoa para pessoa. Umas mais rígidas, outras mais "relativistas", etc. O fato é um só – não há duas pessoas iguais!

Assim, temos que aprender a conviver, respeitar e até utilizar para a nossa vida – pessoal e profissional – as diferenças individuais. Uns têm mais "senso de urgência" e fazem as coisas rapidamente. Outros mais introspectivos, pensam mais, são mais cautelosos. Uns não têm medo de reclamar, "pechinchar", exigir seus direitos e até brigar. Falam com quem têm que falar para conseguir alguma coisa. Outros são mais introvertidos, tímidos, não têm a necessária coragem ou mesmo sentem-se ridículos ao reclamarem seus direitos ou exigirem algum benefício pessoal. Os primeiros acharão os segundos uns "bobos". Estes dizem que os primeiros são uns "mal educados, egoístas, espaçosos...". Quando estamos dirigindo, todos os motoristas que estão dirigindo mais devagar à nossa frente são uns "molengas, tartarugas..." e todos os que nos ultrapassam são uns "loucos, irresponsáveis...". Não é assim mesmo?

A empresa moderna precisa aprender a não só aceitar a diversidade como utilizar essa diversidade para seu sucesso. Os chefes precisam analisar os pontos fortes e identificadores positivos de cada um de seus colaboradores – a diferença positiva – para fazer com que a contribuição de cada um seja a melhor possível para a empresa, para a conquista e mantença do cliente, para a melhoria da qualidade e para o aumento da produtividade. Há empresários, gerentes, chefes em geral que têm a pretensão de imaginar que todos devam ser iguais, com valores semelhantes, gostos semelhantes, ritmos semelhantes. Esses empresários, gerentes, chefes, se desgastam terrivelmente nessa falta de compreensão da diversidade e principalmente por não se aproveitarem dela para o sucesso empresarial.

Vejo, com apreensão, que há empresários e dirigentes empresariais que não conseguem conviver pacificamente com a diversidade em seu universo de clientes. Constantemente acham os clientes "impertinentes" em suas demandas – aquelas que são diferentes do que a empresa imagina serem as "pertinentes" – e sofrem com esse relacionamento cada vez mais tenso entre empresa e clientes. Muitos conflitos que tenho visto entre fornecedores e clientes são fruto da intolerância e da incompreensão da realidade, da importância e mesmo do valor das diferenças de pontos de vista, de opinião, de valores entre as pessoas.

Outra grave consequência dessa incompreensão se dá no relacionamento da empresa com a mídia. A intolerância da empresa com a diversidade de opinião e pontos de vista faz com que o seu relacionamento com os meios de comunicação seja truncado, tenso, deformado, cheio de ruídos. Vejo esse problema ocorrer de ambos os lados. Também os meios de comunicação através de seus profissionais têm, muita vez, demonstrado essa intolerância com "pré-conceitos" e modelos mentais estereotipados sobre o mundo empresarial, sobre o capitalismo, sobre o lucro, etc. E a verdade é que a cada dia que passa as empresas mais necessitam de uma rica e profusa comunicação com o mercado.

Vejo com apreensão empresários acharem que a imprensa tem "obrigação" de publicar atos ou fatos de sua empresa que eles (empresários) julgam importantes, essenciais, de alta relevância para a sua cidade ou região. Ocorre que essa importância nem sempre é vista com a mesma ênfase por aquele veículo de comunicação, gerando um forte ressentimento, principalmente nas cidades do interior onde a proximidade com a imprensa é mais sentida. Da mesma forma, a idiossincrasia da imprensa com relação ao mundo empresarial e a incompreensão do seu valor social na geração de emprego e renda pode levar a um distanciamento de difícil compreensão para o empresário que investiu numa nova fábrica, numa nova loja, na geração de riqueza.

Assim, fica claro que é preciso um verdadeiro e genuíno esforço para compreender, aceitar e valorizar a diversidade. Você que é empresário, que é dirigente empresarial ou você que é político, servidor público, trabalha nos meios de comunicação ou onde quer que seja, pense na diversidade humana. A riqueza da sociedade está justamente na diferença entre as pessoas. O que seria do azul, se todos gostassem do amarelo? – diz o ditado popular. E assim, na empresa, na família, na vida, tente fazer um esforço para respeitar as pessoas como elas são – diferentes de você!

RETRATOS


Em reunião realizada no último sábado, 24 de julho, no auditório do Shopping Costa Dourada, a Academia Cabense de Letras recebeu a visita do comunicador, cineasta e jornalista rafael Negrão. Na oportunidade, Rafael Negrão expôs todo o processo de criação e produção do filme curta-metragem RETRATOS, seu primeiro trabalho em vídeo, em parceria com Leo Tabosa. Em seguida, os acadêmicos assistiram à exibição do curta, que tem a duração de 20 minutos.

RETRATOS será exibido na Livraria Cultura, em Recife, dia 31 de julho, às 19 horas.
RETRATOS mostra, antes de tudo, o lado humano dos(as) travestis, fugindo do clichê comum que mostra a violência e a prostituição rotina dos(as) travestis. Em RETRATOS eles(as) aparecem com pessoas comuns, que estudam, trabalham, têm vida doméstica e, principalmente, uma vida afetiva.
O Curta, que nasceu como um trabalho universitário, ganhou as ruas e tornou-se uma referência para o debate sobre um tema tão delicado e tão importante. Após a apresentação, abriu-se um pequeno debate entre os acadêmicos e o autor do vídeo, com Rafael Negrão sendo bastante parabenizado por todos. A Academia Cabense de Letras declarou apoio ao Projeto que está levando RETRATOS às comunidades.

RETRATOS vem participando de importantes Festivais no Brasil e no exterior, a exemplo do México e Estados Unidos. No Brasil, foi premiado no Rio de Janeiro e participará do Festival que acontecerá no Ceará.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

UM CANTO DE AMOR

Por Valéria Saraiva, abril de 1995.

Natureza virgem e pura
Que o homem não ouse te tocar
E que ele não lhe faça sofrer
Como faz a tantos dos teus filhos.

Ó, mais bela de todas as belezas,
Que habita a água das cascatas
E vê o orvalho nas folhas das tulipas.

Ouve este canto que os passarinhos tentam cantar.

Que canto é este tão branco
Que pela selva de espanto
Vem o fogo calar?

É o canto das andorinhas
Que nesta selva de espanto
Vêem seus filhos queimar.

É um canto de pranto,
É um canto de dor,
Vendo a vida morrendo,
Vendo o fogo matando,
Vê seus filhos chorando,
Vê o pranto correndo.

Que canto é este que trás
Tão triste melodia?

Ó deusa do amor,
Ouve este canto de dor,
Cala este canto
Como calaste tantos
De alguns filhos que nem chegaram a viver.

Acende uma luz em meio à escuridão
E chora mais uma vez a última andorinha.

Valéria Saraiva é enfermeira, pós-graduada em Saúde da Família, poetisa, cabense de coração que adotou nossa cidade com uma visão crítica e precisa dos avanços e retrocessos impostos à sociedade.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

PERFUME DE MULHER

O feriado de Ação de graças se aproxima e o estudante Charles Simms (Chris O'Donnell) decide aceitar um serviço para ajudá-lo a pagar a faculdade: servir de acompanhante para o tenente-coronel Frank Slade (Al Pacino), um militar aposentado, cego e terrivelmente amargo. Mal sabe ele que está preste a viver os dias mais incríveis de sua vida, pois Frank o levará para os restaurantes mais caros e o melhor hotel de Nova York, onde, se tudo correr como planejado, ele cometerá suicídio. Poderá uma viagem mudar o destino de ambos? Oscar de Melhor Ator para Al Pacino.
A canção da cena de tango dançada por Al Pacino no restaurante se chama Por una cabeza, de Carlos Gardel e Alfredo Le Pera. Simplesmente ESPETACULAR!!!!

terça-feira, 20 de julho de 2010

MARQUÊS DO RECIFE O MORGADO DO CABO

O professor da rede pública do Cabo de Santo Agostinho que for ao Shopping Costa Dourada hoje, poderá adquirir, gratuitamente, um exemplar do Livro O MARQUÊS DE RECIFE - MORGADO DO CABO. Basta levar o contra-cheque ou outro documento de comprovação profissional. Quem não é professor poderá adquirir o Livro ao preço simbólico de apenas R$ 5,00. No caso da aquisição por compra, a direção do Shopping Costa Dourada decidiu por doar a renda à Academia Cabense de Letras.

Paralelamente, acontece no local a Exposição fotográfica "UMA CIDADE DE TANTAS HISTÓRIAS", com parte do acervo da Casa da Memória do Cabo, com apoio do Shopping Costa Dourada e Fundação Joaquim Nabuco.

A REDUÇÃO DA POBREZA

Antoir Mendes Santos - Economista

São cada vez mais frequentes os estudos sobre a existência e o crescimento/evolução do número de pobres e miseráveis que ainda compõem boa parte da população brasileira. Não faz muito tempo, o IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - publicou um estudo sob o título “ Pobreza e Riqueza no Brasil Metropolitano” abrangendo esse segmento da população que vive nas seis regiões metropolitanas do país (Recife, S. Paulo, B. Horizonte, Salvador, Porto Alegre e R. Janeiro).

Considerando que as seis regiões estudadas são representativas dos movimentos recentes da nossa estrutura social, e entendendo por pobre todas as pessoas com renda per capita igual ou menor do que 1/2 do salário mínimo e por miserável todos àqueles com renda igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo, o estudo chegou à conclusão de que o “percentual de pobres subiu de 32,9% em 2002 para 35,0% em 2003, declinando a partir daí para 24,1% em 2008, enquanto que no mesmo período a percentagem dos miseráveis cresceu de 12,7% para 13,7% caindo para 6,6% em 2008”.

Em números absolutos, os pobres que eram 14,3 milhões saltaram para 15,4 milhões e reduziram-se para 11,3 milhões, ao passo que os miseráveis que somavam 5,6 milhões cresceram para 6,0 milhões e encolheram para 3,1 milhões. Vale afirmar, enquanto a pobreza reduziu-se em quase um terço nas regiões metropolitanas, os miseráveis recuaram pela metade, evidenciando a participação do programa Bolsa Família.

Mais recentemente, o mesmo Instituto divulgou outro estudo, sob o título “Dimensão, Evolução e Projeção da Pobreza por Região e por Estado do Brasil” que ao tempo em que constata a redução da pobreza no país, também sinaliza que teremos um caminho longo para que o Brasil consiga acabar com a miséria e a pobreza absoluta. Pelos dados do IPEA, o Sul foi a região onde a pobreza absoluta e a pobreza extrema mais caíram, cerca de - 47,15 e - 59,6%, respectivamente, vindo em seguida o Sudeste com - 34,8% e - 41,0%, o Centro-Oeste com reduções de - 12,7% e - 33,7% e o Norte com quedas de - 14,9% e - 33,7%.

Os números para o Nordeste mostram que a região apresenta os estados mais desiguais do país, haja vista a concentração de pobres e miseráveis existentes. Alagoas é o estado que concentra o maior número de pessoas em situação de pobreza absoluta em 2008, cerca de 56,6%, e de pessoas em estado de pobreza extrema, cerca de 32,3%, seguido do Maranhão com 55,9% dos indivíduos vivendo em situação de pobreza absoluta e 27,2% em pobreza extrema, e do Piauí com, respectivamente, 52,9% e 26,1%.

Neste contexto, o RN situa-se numa posição privilegiada, tendo em vista que em 1995 apresentava 63,8% (o menor índice dos nove estados) de sua população em estado de pobreza absoluta tendo evoluído para 44,2% em 2008, queda de - 30,7%, o mesmo acontecendo com a população que em 1995 vivia em estado de pobreza extrema, cerca de 34,3%, atingindo 20,2% em 2008, ou seja, uma redução de - 41,1%. Todavia, essa posição privilegiada dentro da região ainda está distante de estados como Santa Catarina e Paraná onde a redução da pobreza absoluta situa-se em 61,4% e 52,2%, respectivamente. Além dos indicadores de redução de pobreza, o IPEA também apurou o aumento/redução da desigualdade de renda, obtido através do Índice de Gini (quanto mais próximo de 1,0 maior a desigualdade). Neste caso, o índice do RN que era de 0,60 em 1995 passou para 0,55 em 2008, enquanto que no mesmo período Pernambuco foi o estado que apresentou o menor índice, 0,57 contra 0,56.

Para o IPEA, a ação dos governos de Fernando Henrique e Luiz Inácio, com a implantação e execução de programas sociais, foi fundamental para a retirada de 24,6 milhões de pessoas das condições de miséria absoluta e de pobreza extrema. Todavia, para os técnicos da Instituição “só o crescimento econômico não é suficiente para acabar com a pobreza e a miséria, haja vista as diferentes desigualdades regionais que ainda persistem”. E os números são evidentes !
Antoir Mendes Santos - Economista cabense.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O CHORO

Romero Menezes*

Após a desclassificação do Brasil pela Holanda, saí da casa do meu irmão Douglas, onde assisti todos os jogos, com o olhar atento para poder analisar o impacto causado pela inesperada derrota.

Fui caminhando, como sempre faço, até a localidade onde moro, olhando em cada rosto a reação do povo, o que deixou em mim a sensação de caminhar em um imenso “velório coletivo”. Além das lágrimas, um silêncio assustador.

Vi crianças e adultos chorando, vi os bares fechando suas portas, como se a tristeza ficasse ali guardada até a próxima Copa (eram 14 horas). Presenciei também o apagar das churrasqueiras, sob a chuva fina que caía na tarde da mais triste sexta-feira do ano.

No meu caminhar, cheguei à conclusão ser um verdadeiro absurdo tanta gente chorar e sofrer por um simples jogo de futebol. Continuei convencido ser coisa de idiota e fanático. Lembrei minha avó, que sempre me dizia: -Quando chorar, Romero, nunca chore por tolices.

Confesso que segui meu caminho com um certo ar de superioridade, pois, apesar de ser brasileiro, estava sendo diferente da maioria de idiotas e fanáticos. Não estava chorando. Chorar por futebol? Por que? Tô fora! Quem quiser, que chore.

Cheguei na minha moradia bastante cansado. Coloquei a sacola sobre a mesa, sentei no sofá e tirei os sapatos. Aí, lembrei da seleção, senti um forte aperto no peito...

E também comecei a chorar.

*Romero Menezes é funcionário do CRAS da Charneca.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A MAÇONARIA E SUA ESTREITA RELAÇÃO COM O HOMEM PERFEITO

A Ordem Maçônica sempre cultivou a aproximação com grandes vultos das artes e da literatura universal, pois os mesmos sempre habitaram nossos templos; recebemos luzes e damos, como reciprocidade, sinceridade e fraternidade. Fazemos intercâmbios!

A Ordem, como entidade separada da grande sociedade, sempre teve influência na vida dos grandes pensadores da humanidade. Não vou cair no lugar-comum de nominar essas figuras; o grande público poderá reconhecê-las, baseado na repercussão das suas vidas.

Apenas como curiosidade histórica, permitam-me citar o genial Wolfgang Amadeus Mozart, iniciado na maçonaria em uma época de grande dificuldade de relacionamento entre nossa instituição e os Estados monárquicos. Mozart foi influenciado pelos influxos do iluminismo da nossa Ordem, não como artista, pois o gênio já nasce gênio, mas sim na sua vida privada, em relação à grande sociedade.

A maçonaria deu-lhe guarida em momentos de dificuldade existencial, facilitando, de alguma maneira, a realização da sua magistral obra. Sabemos que o que se cria em sociedade tem mais vida do que aquilo que se cria na solidão.

Tenho arquivada nos meus guardados cópia de um bilhete que Mozart enviou a um irmão da Ordem, na semana que estreava a ópera de sua autoria Cosi Fan Tutte:

Salzburgo, 20 de janeiro de 1790
Querido irmão Puchberg,
Se você puder, empreste-me outros 100 florins.
Sinceramente, seu irmão
W.A. Mozart

Provavelmente, muitos leitores podem estar se perguntando: que entidade é esta que se propõe, como está dizendo o articulista, influenciar os homens. Sabemos que a maçonaria continua sendo um mistério para boa parte da população; para muitos porque estes não se interessam em buscar respostas para suas dúvidas; para uns poucos, por juízo preconceituoso e apressado.

Para tentar esclarecer estes e aqueles, gostaria de definir a maçonaria copiando o que nos diz o historiador José Castelani: “É uma instituição iniciática, filosófica, filantrópica e evolucionista. Proclama a prevalência do espírito sobre a matéria, pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, por meio do cumprimento inflexível do dever. Suas finalidades são: liberdade, igualdade e fraternidade.”

Podemos, também, ouvir o maçom Fichte, famoso filósofo alemão do século 18, amigo de Emanuel Kant: “É uma instituição destinada a cancelar a unilateralidade da cultura recebida pelo homem na grande sociedade e elevar esta cultura, constituída pela metade, à cultura universal e puramente humana.” Se a definição de Fichte é mais sintética, também nos obriga a tentar explicar para os leitores o que imaginamos que a nossa Ordem possa dar para a cultura universal.

Cultura para a religião: como cidadão do mundo espiritual, devemos impedir que a religião seja unilateralmente concebida, interferindo em nossas ações e dirigindo nosso intelecto.

Cultura para o Estado: é o estabelecimento da íntima ligação entre o sentimento do direito e a consciência do cidadão. Em outras palavras, observar, como maçom, com a mais escrupulosa exatidão, as leis do seu país. Estas, por mais deficientes que sejam, são sempre melhores do que nada. No entanto, a imposição das autoridades não pode levá-lo a raciocinar como se existisse apenas o seu país, porque fazemos parte da humanidade inteira. Se as leis editadas por estas mesmas autoridades são consensualmente contrárias à Justiça, o maçom não se propõe a cumpri-las. Não faz isso simplesmente por ser maçom, mas sim como homem de caráter íntegro.

Cultura para a educação: é o despertar para nossa capacidade, como racionais, de dominar e proteger a natureza. É o uso de instrumentos da razão para transformar o homem, com reentrâncias do caráter semelhantes a uma pedra bruta, ainda não polida pelo cinzel do pedreiro, em um indivíduo justo e de atitudes perfeitas.

Quais são os meios de que a Ordem Maçônica dispõe para cumprir este desiderato?

O ensinamento e o exemplo, respondem em uníssono a voz dos obreiros da Arte Real, acumuladas através dos séculos; o ensinamento propicia o saber, porém, não pressupõe condições para agir. A decisão, a ser emanada do seu foro íntimo, poderá levá-lo a concretizar esta etapa com sabedoria. Se, ao lado desta disposição, comparando nossa vontade e o desejo de executar a ação com atitudes positivas que assimilamos de quem acreditamos, leva-nos a pensar que estamos trilhando o caminho da razão.

Muitos leitores, por não pertencerem à nossa Ordem, indicariam uma terceira via, a via da emoção, ou seja, a tentativa de atingir o alvo sensível do interlocutor, o seu coração, como fazem muitos oradores públicos.

Comovendo o indivíduo, fazendo-o verter lágrimas emocionadas, podemos, de fato, conduzi-lo a uma efêmera boa ação; após enxugar os olhos, com o desaparecimento do embaçamento momentâneo da visão, passado o êxtase do espírito, ele é o mesmo homem de antes.

Mesmo que o leitor jamais entre em uma loja maçônica, espero que possa acolher em seu coração o sentimento maçônico, segundo o qual tudo o que diz respeito à humanidade e à sua evolução desperta nossa atenção e interesse.

Não afirmo que os maçons são necessariamente melhores do que os outros homens, e, tampouco, que não se consiga alcançar a mesma perfeição fora da Ordem. O que afirmo, respaldado em séculos de imutável ritualística, é que o maçom tem obrigação de, pelo menos, se equiparar aos melhores homens e mulheres da grande sociedade.

Hélio Moreira é membro da Academia Maçônica de Letras de Goiás e da Academia Goiana de Letras.

domingo, 11 de julho de 2010

MENSAGEM À POESIA

Vinicius de Moraes

Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

Vinicius de Moraes, o verdadeiro poeta brasileiro, tenta resistir à poesia. O poema acima foi extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 160.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

SIMPLES E MUITO BEM EXPLICADO

Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira. Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e justo. O professor então disse:

Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e, portanto seriam justas. Com isso ele quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A".

Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.

Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos.. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D". Ninguém gostou.

Depois da terceira prova, a média geral foi um "F". As notas não voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano. Para total surpresa!

O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável".

É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém. Quando metade da população entende a idéia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação. É impossível multiplicar riqueza dividindo-a.

Desconheço Autor
__._,_.___

quarta-feira, 7 de julho de 2010

POEMINHA LIRICO

Fernando Farias

Amanheceu e a lua ainda no céu.
Gotas de orvalho
as pétalas róseas
Refletem os primeiros raios de sol.

Há uma brisa de paz
A energia do amor
As flores sorriem
Para um lindo arco-íris.

No lago perene
Brinca um beija flor
Abanando as asinhas
Fazendo ondinhas
Na lamina de água

O beija flor,
Como um Narciso,
Ver sua imagem refletida
E brinca.

Vendo suas cores cintilantes
Vendo seus olhos e seu bico
Vendo os dentes das piranhas
Que saltam, agarram os pezinhos
Puxam o beija flor para o fundo
Escuro do lago.

Atacam os olhos,
Arrancam os olhos,
Rasgam o papo do pobre animal,
Que sacode o que resta das asinhas
Que sangra
Esperneia
E morre
Todo mordido
Fudido
Nas águas do Capibaribe
Do Recife que fede
Cheio de merda.

Poema Lido por Bruno Pifardinni na Fliporto

· Homenagem aos poetas pernambucanos. Especial para o grande poeta Miró da Muribeca.

domingo, 4 de julho de 2010

ALVORADA DA PAZ


 

Composição: (Luiz Gonzaga e Lourival Passos)
 
Jânio Quadros
Tu és um soldado
Sentinela da democracia
O Brasil foi por ti libertado
Reação nacional, valentia

Jânio Quadros, a tua bandeira
É a Pátria querida a servir
Tornar grande a nação brasileira
Gloriosa, feliz no porvir
Jânio Quadros, tu és presidente
Norte e Sul, a nação unirás
No Planalto, te quer tanta gente
Novo sol, Alvorada da paz

Só Lacerda gritou Guanabara
Paraná respondeu com Nei Braga
Minas deu Magalhães, jóia rara
Tantas glórias o povo afaga
Oh! São Paulo! Que tem Dom Carvalho
Salve-se de Gondim e Luiz
Redenção, honradez e trabalho
E o Brasil, seu destino feliz

NÃO PODEMOS ESQUECER QUE CARTOLA COMPÔS E CANTOU TAMBÉM A SUA ALVORADA.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

EU QUERO PARAR

“Quer ter mais disposição? Produzir mais e melhor? Ficar mais próximo de quem você gosta? Corte um hábito e aproveite melhor todos os outros. Querer é poder. Consulte seu médico.”


Este é o clima otimista e positivo da campanha de conscientização “Eu Quero Parar” da Pfizer, uma iniciativa que visa estimular o fumante a abandonar o cigarro. Apoio comportamental aliado a um tratamento farmacológico aumentam em até seis vezes as chances de um fumante parar de fumar. Acreditando nisso a Pfizer lançou este programa que funciona como um complemento ao tratamento do paciente fumante e oferece vários suportes como dicas comportamentais para evitar recaídas e situações de risco e incentivo para manter-se longe do cigarro. Confira aqui o site oficial.

O cigarro contém cerca de 4.700 substâncias tóxicas. Você conhece os males causados pelo fumo? Veja aqui.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

UMA ELEIÇÃO MEMORÁVEL

Douglas Menezes

Corria o ano de 1972. Anos de chumbo aqueles daquela década. Tortura, mortes e medo, muito medo. Ser oposição ao regime militar era tarefa para fortes, para as pessoas que possuíam, acima de tudo, uma consciência democrática e capacidade de doação acima de suas conveniências pessoais. Aquelas que são úteis e imprescindíveis porque lutam a vida inteira. São os que sacrificaram a própria vida para que hoje respiremos os ares democráticos da ainda incipiente democracia brasileira.

Pois bem. Naquele ano, haveria eleição para prefeito. Forma que a ditadura encontrou para dar um feitio democrático ao regime de exceção, já que não havia pleito nem para governador, presidente ou governante das capitais. E a cidade do Cabo de Santo Agostinho era uma das mais visadas pela sua importância econômica e, sobretudo, por sua politização e pelo fato representar um dos centros da resistência democrática. Uma cidade em que o governo não admitia sair derrotado.

Já naquela época, o instituto da sublegenda funcionava a todo vapor. Instrumento criado para dificultar o avanço da oposição ao regime, consistia na soma de votos de um partido que poderia eleger um candidato mesmo sendo ele o menos votado. Com isso, o governo lançou, na eleição do Cabo, dois candidatos: José Feliciano de Barros e Vicente Mendes Filho, pela Arena, partido governista; enquanto a oposição ia de Lúcio Monteiro e José Ribeiro de Jesus.

Sem dinheiro, usando um fusca velho e um banquinho para fazer discurso, Lúcio Monteiro conseguiu empolgar o povo, desbravando o caminho para a renovação política do Cabo, além de um aspecto importante: o apelo à conscientização política, abrindo espaço para que o poder econômico influísse menos na eleição. Uma campanha memorável. Lúcio teve mais de cinco mil votos, ganhou do segundo colocado com uma diferença de quase mil e quinhentos votos mas perdeu, porque a soma dos dois candidatos da Arena suplantou sua votação. No entanto, a lição ficou. Uma década depois, um político de esquerda ganhava as eleições no Cabo: Elias Gomes iniciava uma nova era na política cabense.

Os cabenses um pouco mais velhos não podem esquecer esse fato histórico. Após o resultado das urnas, Lúcio foi carregado pelas ruas da cidade, nos braços do povo, que gritava seu nome. Há derrotas que de tão emblemáticas parecem vitórias, pelo seu sentido épico, por representarem a possibilidade real de mudança e a chegada de um futuro melhor para as pessoas. Isto aconteceu e eu vi.

Cabo, 28 de junho de 2010.

*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.