sexta-feira, 28 de junho de 2013

A GERAÇÃO DIGITAL E O POVO NAS RUAS

Por Douglas Menezes

Eles chegam às ruas como se conhecessem e não se conhecem. Gritam palavras de ordem que não partem de nenhum comandante. Se perguntados quem é o líder, a resposta pode ser invariável: é o “face”. Em outras palavras, inaugura-se no Brasil um modo diferente de se mobilizar, de se fazer política de massa. A bofetada arremessada contra \os p...olíticos e seus partidos nesses dias tensos de manifestações, expressa uma mudança até pouco tempo inimaginável no país, um modo avançado de se juntar povo nas ruas, baseado totalmente na tecnologia, na civilização digital, e um aviso de que “nada do que foi será do jeito que já foi um dia”. A história está sendo reescrita ou seja, digitada pela nova geração. E a ausência de um conteúdo ideológicos nos protestos, antes de ser um componente alienante, serve para marcar espaço, para dizer que as velhas práticas políticas, com seus conceitos arcaicos e dissociados do momento atual, deve ser substituído por algo novo, que não sabemos, na verdade, o que é. Há, nisso tudo, um elemento sensitivo, à flor da pele, não sendo cerebral, é captado de modo espontâneo, baseado nas carências do dia a dia, que mexem, principalmente, com a sobrevivência de cada indivíduo: Educação, Saúde, Transporte, Inflação, Impostos e Corrupção dos políticos.

Por outro lado, observamos um aspecto cuja evidência ficou constatada nas manifestações: a classe política mostrou-se totalmente despreparada para entender e aplicar as novas tecnologias em suas ações. As velhas práticas seculares de anestesiar o povo, principalmente com o assistencialismo, o sempre deixar para amanhã o que é urgente, a distância entre a sociedade e seus gabinetes, o sentimento de impunidade, a esperteza, a endêmica incompetência, tudo isso parecia intocável para os políticos, mas a gota d’água chegou através dos gastos astronômicos com a copa do mundo, a ser realizada no próximo ano. Na verdade, o argumento da copa foi o acordar de um vulcão que há muito já soltava suas lavas.

A juventude digital, então, não perdoou. Se os excessos acontecem, a legitimidade do que ocorre nas ruas é incontestável. Que se cuidem as velhas direita e esquerda. Elas ainda cultivam ultrapassados líderes ditatoriais, que tratam seus países como feudos e impedem suas populações de terem acesso aos avanços tecnológicos e às transformações pelas quais passa o planeta. A Sociedade desorganizada está protestando, já alguns tímidos resultados aparecem. O que virá daqui para frente, não sabemos. Sentimos, no entanto, os ventos da mudança soprando. A continuidade das velhas práticas cansou a todos. A geração “ face book” deixa o recado claro: “ Nada do que foi será do jeito que já foi um dia” .

Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

UMA FLOR ENTRE AS PEDRAS

                  

DOUGLAS MENEZES

   Vi agora, no visual árido, uma flor que vai brotando, como se o impossível fosse possível, e foi. Um alerta, um alento. A aridez  e a explosão nascida de uma flor que nem sei o nome. Exuberante, desafiando o  que se pensa não ter vida. A natureza põe poesia na existência. A crônica se faz das coisas singelas. Constatação óbvia, verdadeira, no  entanto.

   Vi essa imagem no velho computador, na luz artificial, alguém a colocou para o mundo. Gente sensível, que conheço, compartilhou como se mostrasse a senha para que consigamos viver o simples e entendamos a essência das coisas. A fertilidade pode estar onde aparentemente o estéril domine.

     Não se trata apenas de uma filosofia de vida, mas de uma verdade. Tirar leite de pedras é mais comum do que se pensa. Pessoas há que fazem do pessimismo paranoico uma marca de existência: enxergam falta de saída em tudo. Não conseguem regar a planta do seu dia a dia e veem sempre para si um mundo deserto. Claro, o otimismo piegas, alienado, sem consistência, também é um lado da moeda a ser evitado. Não mais das vezes, gente assim torna-se parecida com personagem de  livros de auto ajuda, que engordam as contas das editoras e autores e não fazem uma leitura real da vida.

     O que  pensamos, na verdade, é que, muitas vezes, podemos dar soluções a problemas que não possuem a gravidade que imaginamos. Sem necessidade, tornamos nossas próprias dores ilimitadas. Não reconhecemos a força que possuímos,  subestimamos nosso valor,  nossa capacidade de reagir.

     Por que não compreendermos melhor a força da natureza, da qual fazemos parte? Por que não fazermos dos fracassos, combustíveis para consequentes vitórias? Afinal, uma flor nasceu entre as pedras, celebrando, assim, a poesia da vida, em qualquer lugar do planeta.
 
Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.