quarta-feira, 10 de outubro de 2012

VIRTUDES E VÍCIOS


Wagner Veneziani Costa


Vencer minhas paixões levantando templos à virtude e cavando masmorras ao vício, eis o que viemos aqui fazer. Do caos à ordem; da obscuridade à luz.


Seria tarefa simples falar de virtude e vício em sentido literal, bastaria para isso dar o sentido filológico, mas falar de virtude e vício em sentido filosófico e maçônico é difícil.


Maçonaria não é religião nem partido político nem igreja; todavia ela põe o homem no caminho, desperta. Não oferece verdade definitiva, imutável, dogmática. Representa o livre exercício da tolerância. Aprende-se a interrogar, recolocar em questão. Graças a esse fator de progresso descobrem-se os caminhos do conhecimento e da ordem que deve reinar no domínio material e espiritual. Isto facilita ao homem desenvolver virtudes. Usa-se de processos, rituais; contatos humanos, conhecimentos, disciplina, e outros artifícios para definir no homem sua personalidade melhorada.


Virtude é passagem da paixão para ação e meditação. Uma externa outra interna. Caminho onde o homem revela a si mesmo e ultrapassa limites; encontra o "eu", o ser interno, com seus sentimentos, atos e pensamentos. Floresce a capacidade ou potência própria do homem desenvolver qualidades naturais. Desperta a virtude de valorização positiva do indivíduo, a disposição geral e constante da prática do bem. Não significa que o homem virtuoso seja altruísta ou filantropo, mas tende para tal. O homem de virtudes tem o hábito de cumprir leis e obedecer aos costumes da sociedade em que vive; socialmente correto, honesto, justo, paciente, sincero, compreensivo, generoso, prudente, corajoso e perseverante.

Maçonaria é a escola que permite controlar paixões. Faz com que se tenha domínio do "eu" e respeito ao próximo.


Toda virtude tem seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do bem. Mas não basta falar, urge experimentar, praticar. Os mais variados tipos de virtude têm de ser experimentados, vividos, compreendidos; ao menos intelectualmente. Assim como Spinoza,

"não creio haver utilidade em denunciar os vícios, o mal. Para que acusar? Isso é a moral dos tristes e uma triste moral".

A primeira e fundamental parte da virtude é a verdade, dizia Montaigne,

"A verdade condiciona todas as outras e não é condicionada, em seu princípio, por nenhuma".

A virtude não precisa ser generosa, suscetível de amor ou justa para ser verdadeira, nem para valer nem para serem devidas. Amor, generosidade e justiça só são virtudes se, antes de tudo, forem verdadeiras. Aqui surge a boa-fé; a conformidade dos atos e palavras com a vida interior ou desta consigo mesma. É respeito à verdade. Virtude sem boa-fé não é virtude. A boa-fé, como todas as virtudes, é o contrário de narcisismo, egoísmo cego, submissão a si mesmo.


Não confundir dever com virtude. Dever é coerção, virtude é liberdade, ambas necessárias.  O que se faz por amor não se faz nem por coerção nem por dever. Quando o amor e o desejo existem, para que o dever? Não amamos o que queremos, mas o que desejamos. O amor não pode ser comandado nem pode ser dever.

Nietzsche dizia:

"O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal".

A virtude não é bem, mas a força para ser e agir na prática do bem.

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