sexta-feira, 8 de março de 2013

SER MULHER E MORAR NO CABO DE SANTO AGOSTINHO

Tereza Soares*
Vou dizer aos leitores dessa mensagem o que é morar no Cabo de Santo Agostinho do ponto de vista de uma mulher: é não ter mais a liberdade de andar nas ruas sem ser assediada por homens estúpidos, mal educados, estranhos à nossa cultura, usando ou não uniformes de fábricas, que invadiram uma cidade que já foi pacata e muito mais segura. É entrar num ônibus e ouvir conversas atravessadas de um ponto a outro do coletivo, conversas que só interessariam a eles, mas que somos obrigadas a ouvir, flagrando muitas vezes, ideias inescrupulosas. Quero dizer que por isso e muito mais sentimo-nos atrapalhadas em nosso cotidiano por essa incidência de homens em desigualdade com o número de mulheres.

Atrapalhadas por olhares insidiosos sobre nós, sem respeito à nossa condição, se casada, solteira, celibatária...querendo fazer de todas elas "presas sexuais", coisa que no litoral agrava-se ainda mais. Atrapalhadas quando a cidade cheia de gente, os homens na maioria andando em grupos, fazem verdadeiros paredões dentro de supermercados, bancos e calçadas...Consultórios odontológicos conveniados parecem mais clínicas de Medicina do Trabalho: repletas de trabalhadores no corre-corre dos intervalos dos empregos de Suape.

Eu mesma já fui desrespeitada por um dentista de convênio que se vendeu ao pagamento adiantado de cinco procedimentos odontológicos de uma só vez de um desses trabalhadores. O dentista, sem nenhuma cerimônia, atendeu na minha frente um deles, pois estava com dinheiro na mão, quando minha consulta já estava previamente marcada. Reclamar pra quem se quem dita nesse caso é o dinheiro???

Agora uma pergunta...Que cultura é essa que anda se formando no Cabo de Santo Agostinho de “abrir as pernas” pra quem vem de fora? Por quem foi implantada esta cultura? Pelo governador Eduardo Campos que nada sofre com tudo isto??? Há quem diga que muita gente está ganhando muita grana com tanta obra.  Para mim cada obra que chega, leva embora o nosso imposto sem garantia de retorno para a cidadania.

Quanta tristeza sente uma mulher cidadã, que não bastasse a falta de infraestrutura da cidade para os próprios moradores ainda têm que enfrentar esses, me perdoem a expressão "brutamontes" em toda a parte, fazendo suas festinhas com música às alturas, músicas com letras que afrontam a condição feminina, passando por cima de leis de poluição sonora, confrontando o cotidiano de quem tem filhos para botar pra dormir com os interesses de trabalhadores alojados em casas de aluguel esperando o salário no final do mês pra sentirem-se felizes.

O que virou o Cabo de Santo Agostinho! Um alojamento de trabalhadores de Suape que vem de várias partes do País para despejarem suas tristezas, frustrações, espermas e o pouco dinheiro que ganham comprando apenas o necessário por aqui? O que deixam? Filhos indesejados, lixo, processos na justiça por brigas com os pernambucanos, dívidas em casas de aluguel...maus inquilinos, maus cidadãos  e pessoas insatisfeitas porque queriam fazer daqui um paraíso ao seu favor, onde “deitar e rolar” é o lema. Um choque cultural inevitável que tem rendido um saldo de mortos de baianos, esses que tem sido considerados por pernambucanos “uns folgados”.

Então o que me resta no Dia Internacional da Mulher é reclamar de ser mulher moradora da cidade que é o 4° PIB de Pernambuco, mas sem ninguém para lembrar que o trabalho doméstico também alimenta o PIB, sem ninguém pra lembrar que o atendimento à Saúde da Mulher está cada vez mais difícil com vias de se tornar inacessível para tantas mulheres  na Mata Sul que precisam do atendimento do polo médico que se tornou o Cabo de Santo Agostinho.

Para as mulheres que trabalham em Suape, seja do Cabo ou não, desejo que tenham seus direitos trabalhistas respeitados. Para as moradoras da área rural, que os benefícios cidadãos também as alcance levando mais dignidade ao campo. Para as mulheres da Cohab, Vila Roca, Contra Mocampo, Garapu, Vila Claudete, Praias, Charneca, Charnequinha, Pirapama, Ponte dos Carvalhos, Pontezinha, Juçaral... que acordem e procurem denunciar os desmandos que lhe afetam numa cidade em que ser mulher tornou-se ainda mais inseguro, com perdas lamentáveis visíveis para a cidadania,  com o aumento da cultura machista e do desrespeito a direitos conquistados “na marra”.

*Tereza Soares é Jornalista, poetisa e integrante da Academia Cabense de Letras. Ativista ambiental na Mata das Duas Lagoas em Itapuama e moradora de Enseada dos Corais no Cabo de Santo Agostinho. 

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