quinta-feira, 14 de março de 2013

ESSA CRÔNICA VONTADE DE DIZER

  Por DOUGLAS MENEZES

 Desejo de dizer sempre. Busca de luz pela palavra que teima em ser difícil. Quero cantar uma coisa que não sai porque a vida não deixa. Procura de um otimismo cá dentro existente, mas conflituoso, pois a existência é antítese: ilusão não entender isto. Bem ou mal convivem e não temos o direito de negar pra ninguém. Ir e voltar. Ofender pedindo perdão logo adiante.  “Existirmos a que será que se destina?”. Poeta fala coisa que queremos dizer e não sabemos como, ele sabe mais que os racionais, os pragmáticos de plantão.
  Não à toa que alguém falou ser a Literatura mais coerente que a vida. Coerência própria, interna: a Arte não nega nem a fantasia, o sonho, o mágico; nem a realidade mais concreta desse mundo. Não insana a loucura. Insanidade maior essa briga por espaços, por dinheiro, desenfreada. Poder pelo poder. Sujeira disfarçada. Gentilezas artificiais dessas figuras pegajosas, de cumprimentos leves, macios, falsos por demais. Corra desse: fala mansa, sempre resolvendo tudo, artificial humildade, oportunista em tudo, no entanto: Terra cheio dessa gente que faz da hipocrisia a marca da existência.
   Marinita, não. Diz o que quer entre uma merenda e outra e sempre expressando verdade. Verdade dos humildes sem mãos macias, calejadas de honestidade. “Sou um atleta sexual, Marinita”. A merendeira não perde o ritmo: “Só gosto de mentira quando eu conto”. Não me ofende, Marinita. Pois ali, pureza; pois ali, sinceridade; ali, amizade que os títulos, os cursos e os livros, aos montes, não trazem. Não de graça que loucos bons, feito Manuel Bandeira e o Buarque Francisco gostavam e gostam tanto desse povo simples. Gente que faz a história da vida.
   Ah, essa crônica vontade de dizer. Letras no lugar do som da voz. Tão tímida que não emite quase ruído. Esse cuidado covarde no falar da boca. Essa coragem de dedos e mente, porque expressar é preciso. Cabeça pior se não engendrar frases e períodos, mesmo que poucos leiam e aumente a ilusão de que isto serve para alguma coisa.
   Madrugada tão alta. O calor da existência aparece devagar, como os gestos calmos de Débora, lembrando dia que chega. Os dedos não têm sono, mas querem terminar esse pedaço apenas. Pois sei, vida afora, até a morte, não vai cessar nunca, haja o que o houver , essa vontade crônica de dizer.
Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.

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