segunda-feira, 25 de março de 2013

A CINZA DAS HORAS, DE MANUEL BANDEIRA


Este primeiro trabalho literário de Manuel Bandeira, “A Cinza das Horas”, é caracterizado pelo lúgubre aparato que rodeia o imaginário do poeta, com poemas parnasiano-simbolistas, paralelos à época do seu adoecimento (1917). O poeta não tinha intenção de enveredar na carreira literária,  e apenas extravasar o seu descontentamento frente a nova situação, quando foi desenganado pela medicina. Daí, a motivação para sua intensa produção literária, que começou com “A Cinza das Horas”, de onde apreciamos estes dois poemas.

EPÍGRAFE

Sou bem-nascido. Menino,          
Fui, como os demais, feliz.          
Depois, veio o mau destino         
E fez de mim o que quis.  


Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,          
Levou tudo de vencida,     
Rugia e como um furacão,           


Turbou, partiu, abateu,      
Queimou sem razão nem dó -     
Ah, que dor! 
Magoado e só,        
- Só! - meu coração ardeu:           


Ardeu em gritos dementes           
Na sua paixão sombria...  
E dessas horas ardentes  
Ficou esta cinza fria.          
- Esta pouca cinza fria.      



DESENCANTO Eu faço versos como quem chora          
De desalento. . . de desencanto. . .         
Fecha o meu livro, se por agora  
Não tens motivo nenhum de pranto.      


Meu verso é sangue. Volúpia ardente.   . .
Tristeza esparsa... remorso vão...           
Dói-me nas veias. Amargo e quente,     
Cai, gota a gota, do coração.       


E nestes versos de angústia rouca,        
Assim dos lábios a vida corre,     
Deixando um acre sabor na boca.          


- Eu faço versos como quem morre.      

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