sexta-feira, 12 de agosto de 2011

POR QUE NÃO EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA?


Por Douglas Menezes

         Nas ruas, nos transportes coletivos, no trânsito, as pessoas trocam agressões: verbais, físicas ou com gestos. Definitivamente, a tão outrora decantada gentileza brasileira não existe mais. O homem cordial deu lugar a um ser que parece não saber, direito, como direcionar os bens materiais adquiridos recentemente, no sentido de uma vida verdadeiramente humana, e mais solidária. É preocupante observar as conversas de pessoas simples, principalmente nos celulares, que parecem estar sempre se preparando para uma guerra, ou falando com um inimigo letal. Muitos, aos gritos, expressam um ódio, tão intenso, ao telefone, que nos sugerem uma tragédia prestes a acontecer. São ameaças e promessas de vinganças, com o agravante de que não se preocupam com quem está ouvindo, como um fato corriqueiro, numa “animalização” que tira a capacidade de raciocínio e de sensibilidade inerentes aos seres humanos.

          Claro, e isto é bom, que as pessoas, hoje, comem mais, vestem melhor e compram bens que não tinham há algumas décadas atrás. O avanço econômico e tecnológico é evidente. A transferência de renda uma necessidade para um país com uma enorme dívida social. No entanto, como diz o poeta, “ a gente não quer só comida”. O brasileiro precisa rever princípios éticos e morais, inclusive não ter receio de, em alguns casos, voltarmos ao passado. A nossa democracia, ainda incipiente, entende, equivocadamente, a liberdade como um fazer tudo sem preceitos nem regras, mas elas devem ser rígidas e necessárias, às vezes. E a falta de educação ética e moral leva, principalmente os jovens, a ações que sempre deságuam nas drogas e na violência desenfreada, fruto, sobretudo, da desintegração das famílias. Todos os anos milhares de vidas de jovens são cortadas neste país, de modo estúpido e banal. É a existência desvalorizada ao último grau.

           Sem querer ser saudosista ou fazer apologia à ditadura militar, Deus nos livre, sentimos falta dos alunos que cantavam o Hino Nacional no pátio da escola, antes do início das aulas; dos estudantes que se levantavam em sinal de respeito à chegada de alguém estranho no seu ambiente de estudo, além do tratamento respeitoso aos professores e autoridades escolares. Símbolos nacionais eram tidos como sagrados, a exemplo da bandeira, que hoje é vista pelos mais jovens como um pedaço de tecido desenhado, apenas. Até a seleção brasileira, um dos nossos orgulhos em décadas passadas, quando o Brasil parava à hora dos jogos, agora não atrai a atenção que deveria atrair, por conta também do mercantilismo, dos interesses meramente comerciais que giram em torno do futebol. A seleção deixou de ser a pátria de chuteiras, como bem dizia Nelson Rodrigues.

            Os gestos gentis escasseiam. A guerra civil instalada só não tem o nome oficial. A hostilidade é regra, quando deveria ser exceção. Ser educado é ser ultrapassado, é sentir saudade de um país que morreu. Evitar discussão desnecessária é acovardar-se. Ser digno é se impor ao outro, numa relação de domínio. Admirado é o esperto, que enriqueceu roubando e ascendeu socialmente de modo ilícito. E essa frouxidão de princípios éticos atinge diretamente a política, com os sucessivos escândalos, já tão comuns, causando essa anestesia da população, já acostumada e descrente de que seu dinheiro seja respeitado e usado como deveria ser um dia.

            O Brasil, urgentemente, precisa de um choque ético, e o Poder Público possui uma responsabilidade central nessa questão. E isto deve ser feito mesmo que tenhamos que recorrer ao passado, naquilo que ele possa ter representado de bom. Afinal, o tempo que passou não deve impedir o presente, mas, com certeza, serve de balizamento e de imensa contribuição para o futuro que as novas gerações irão promover.

Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

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