terça-feira, 26 de outubro de 2010

O USO DE DROGAS

(Depoimento emocionado de Luiz Fernando Veríssimo sobre sua experiência com as drogas).

Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de experimenta, depois quando você quiser é só parar... e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", da terra, que não fazia mal, e me deu um inofensivo...... disco do Chitãozinho e Xororó, e em seguida um do Leandro e Leonardo.

Achei legal, uma coisa bem brasileira. Mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez: Lembro que cheguei na loja e pedi: - Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano.

Era o princípio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele me ofereceu um CD de Axé.
Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa leve... Banda Eva, Cheiro de Amor, Netinho, etc.
Com o tempo, meu amigo foi me oferecendo coisas piores... o Tchan, Companhia do Pagode e muito mais.

Após o uso contínuo, eu já não queria saber de coisas leves, eu queria algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer os quadris como eu nunca havia mexido antes. Então, meu amigo me deu o que eu queria, um CD do Harmonia do Samba.

Minha “bunda” passou a ser o centro da minha vida, razão do meu existir. Pensava só nessa parte do corpo, respirava por ela, vivia por ela! Mas, depois de muito tempo de consumo, a droga perde efeito, e você começa a querer cada vez mais, mais, mais... Comecei a frequentar o submundo e correr atrás das paradas. Foi a partir daí que começou a minha decadência. Fui ao show e ao encontro dos grupos Karametade e Só Pra Contrariar, e até comprei a Caras que tinha o Rodriguinho na capa.

Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro. Meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma música que não dizia nada, eu e mais outros 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorríamos e fazíamos sinais combinados.

Lembro-me de um dia quando entrei nas lojas Americanas e pedi a Coletânea "As melhores do Molejo". Foi terrível! Eu já não pensava mais!!! Meu senso crítico havia sido dissolvido pelas rimas miseráveis e letras pouco arrojadas. Meu cérebro estava travado, não pensava em mais nada. Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, ao limiar da condição humana, quando comecei a escutar popozudas, bondes, tigres, MC Serginho, Lacraias, motinhas e tapinhas. Comecei a ter delírio e a dizer coisas sem sentido e quando saía à noite para as festas, pedia tapas na cara e fazia gestos obscenos. Fui cercado por outros drogados, usuários das drogas mais estranhas que queriam me mostrar o caminho das pedras... Minha fraqueza era tanta que estive próximo de sucumbir aos radicais e ser dominado pela droga mais poderosa do mercado: Ki-Kokolexo.

Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro doses cavalares de MPB, Bossa-Nova, Rock Progressivo e Blues. Mas o médico falou que eu talvez tenha de recorrer ao Jazz, e até mesmo a Mozart, Beethoven e Bach.

Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro. Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam a visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável, distante.

Vai perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de encher a cabeça com porcaria, “pratique esportes” e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:

- Não ligue a TV no domingo à tarde;
- Não entre em carros com adesivos "Fui.....";
- Se te oferecerem um CD, procure saber se o indivíduo foi ao programa da Hebe e ou ao Domingo Legal do Gugu;
- Mulheres gritando histericamente são outro indício;
- Não compre um CD que tenha mais de 6 pessoas na capa; (essa é boa!)
- Não vá a shows em que os suspeitos façam passos ensaiados;
- Não compre nenhum CD que tenha vendido mais de um milhão de cópias no Brasil, e...
- Não escute nada em que o autor não consiga uma concordância verbal “mínima”.

Diga não às drogas!
A vida é bela! Eu sei que você consegue!

Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone.

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