quinta-feira, 19 de agosto de 2010

VERSOS ÍNTIMOS - AUGUSTO DOS ANJOS


Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão " esta pantera "
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!



ABC DE AUGUSTO DOS ANJOS


AMOR - "O amor na Humanidade é uma mentira".
O amor é como a cana azeda, a toda a boca que o não prova engana."

BEIJO - "O beijo, amigo, é a véspera do escarro".

CORAÇÃO DO POETA - "O coração do poeta é um hospital onde morreram todos os doentes".

COVEIRO - "Este ladrão comum - que arrasta a gente para o cemitério".

DOR - "Ancoradouro dos desgraçados, sol do cérebro, ouro de que as próprias desgraças se engalanam!"

INCONSCIENTE - "O Inconsciente me assombra e eu nele rolo".

LUPANAR - "É o grande bebedouro coletivo, onde os bandalhos, como um gado vivo, todas as noites, vêm matar a sede!"

MELANCOLIA - "És a árvore em que devo reclinar-me... Se algum dia o Prazer vier procurar-me dize a este monstro que eu fugi de casa".

MORTE - "Morte, ponto final da última cena".
"Morte - esta carnívora assanhada - serpente má de língua envenenada que tudo que acha no caminho, come..."
"Morte - alfândega onde toda a vida orgânica há de pagar um dia o último imposto!"

MUNDO - "O mundo é um sepulcro de tristeza".

PODRIDÃO - "A podridão me serve de Evangelho".

VERME - "Verme, este operário das ruínas".

VIDA - "Vida, aquela grande aranha que anda tecendo a minha desventura".

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