terça-feira, 10 de agosto de 2010

TEORIA DAS JANELAS PARTIDAS

Em 1969, na universidade de Stanford (Estados Unidos da América), o professor Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova Iorque e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila

da Califórnia. Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada sítio.

Resultou que a viatura abandonada no Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.

É comum atribuir à pobreza as causas de delito. Contudo, a experiência em questão não terminou aí, quando a viatura abandonada no Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava a uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.

O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o do Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre.

Por que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso? Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem certo grau de semelhança com a psicologia humana e com as relações sociais.

Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como que vale tudo. Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.

Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'teoria das janelas partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico, conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujidade, a desordem e o maltrato são maiores.

Ao quebrar o vidro de uma janela de um edifício e ninguém o concerta, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.

Se os cidadãos cometem 'pequenas faltas' - estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar um semáforo vermelho, etc. - e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves.

Ao permitir atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de incremento da violência quando estas forem adultas.

Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas - que deixa de sair das suas casas por temor à criminalidade -, estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.

A teoria das janelas partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova Iorque, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: grafites deteriorando o lugar, sujeira nas estações, bêbados perambulando entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.

Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de nova Iorque, baseado na teoria das janelas partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de 'tolerância zero'.

A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de nova Iorque.

A expressão 'tolerância zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de fato, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero.

Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.

Prof. Philip Zimbardo é professor da Universidade de Stanford desde 1968. Em 2003 recebeu o Prêmio IgNobel de psicologia pela sua tese em que descrevia os políticos como Uniquely Simple Personalities. Em 2005 Recebeu o Havel Foundation Prize pela sua vida de pesquisas sobre a condição humana.
Está atualmente trabalhando na cronologia da Experimento do aprisionamento de Standford e sua relação com os abusos na prisão de Abu Ghraib e outras formas de vilanias. Deverá ser lançado no verão de 2007 o seu livro O Efeito Lúcifer: Entendendo como pessoas boas se tornam diabólicas (The Luficer Effect: Understanding How Good People Turn Evil). O Dr. Zimbardo foi presidente da Western Psychological Association em duas ocasiões, Presidente da American Psychological Association, e escolhido Chair do Council of Scientific Society Presidents (CSSP).

 

Um comentário:

  1. Interessante. Já li este mesmo texto em espanhol.
    Quem é o autor?

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