sexta-feira, 14 de maio de 2010

CELINA DE HOLANDA


Jornalista e poeta, Celina de Holanda Cavalcanti de Albuquerque nasceu no município do Cabo, a 19/06/1915, tendo depois se transferido para o Recife, onde atuou na imprensa.

Publicou seus primeiros poemas nos suplementos literários do Jornal do Commercio e Diário de Pernambuco e o primeiro livro (O Espelho e a Rosa) foi editado quando ela tinha 55 anos de idade.

Além de participar de várias coletâneas (Palavra de Mulher, A Cor da Onda por Dentro, Antologia Didática de Poetas Pernambucanos, entre outras), sua obra é composta pelos seguintes livros:

O Espelho e a Rosa (1970); A Mão Extrema (1976); Sobre Esta Cidade de Rios (1979); Roda D'água (1981); As Viagens (1984); Pantorra, o Engenho (1990); Viagens Gerais, de 1985, coletânea dos livros anteriores e mais os inéditos "Afogo e Faca" e "Tarefas de Ninguém".

Morreu no Recife, a 04 de junho de 1999.


O LIMITE

Vi os que lutam
contra a opressão
sendo opressores (não há
claros limites entre uns
e outros) e disse :
ai de nós
os que comemos juntos, se
não partilhamos (só alguns
têm certeza da comida
sinal forte de felicidade
para os que têm fome).
Ai de nós
por essa consciência de puros
sem nada para ser perdoado
como o Publicano e o Bom Ladrão.

LA LIMITE

J’ai vu ces que luttent
contre l’oppression
étant des oppresseurs (il n’y a pas de
claires limites
entre les uns
et les autres) et il a dit :
aie de nous
qui mangeons ensemble, si
nous ne partageons pas (à peine
quelques-uns
ont la certitude de la nourriture
signe fort de bonheur
pour ceux qui ont faim).
Aie de nous
pour cette conscience de purs
sans rien pour être pardonné
comme le Publicain et le bon Ladron.

(Da antologia bilingüe “Poésie du Brésil”, seleção de Lourdes Sarmento, edição Vericuetos, como nº 13 da revista literária francesa “Chemins Scabreux”, Paris, setembro de 1997.Traduções de Lucilo Varejão, Maria Nilda Miranda Pessoa e outros.)

Publicado em setembro de 2008

MERIDIANO

Vivemos a grande noite.
Cada amor em seu amor
se oculta.
Quem nos roubou a ternura
escondida? O corpo claro
e diurno?
Como os animais e as crianças
um dia a vida será só vida.

A PEDRA

Nesta mesa
o povo está sentado.
Não divaga.
Tudo o de que necessita
é perto e urgente.
Frio e direto, toma
a pedra que sou e quebra.
Vai construir o mundo.

"Não sei de muitas vozes poéticas femininas que se equiparem à sua, pela limpidez do sentimento reflexivo e pela discrição da palavra."
Carlos Drummond de Andrade

“Se apago esta paixão talvez me apague.”
Celina de Holanda

Um comentário:

  1. João, perdoe-me o excesso de sinceridade, mas você tem se revelado um excelente pernambucólogo. Afinal, a gente tem mesmo de cantar nossa própria aldeia, como diria o poeta. Todo dia passo por aqui e tenho conhecido muitos valores de sua terra, que eu não conhecia. Admiro muito seu Estado. Em minha concepção Pernambuco ou Recife está para o Nordeste como São Paulo (capital para o Sul; lugares onde as coisas estão sempre acontecendo.
    abs

    Em tempo: no momento estou lendo (edição virtual) o romance de um dos ídolos meus, daí desse sol forte, Ariano Suassuna, "A Pedra do Reino...". Delicioso romance, alegre, genuinamente nosso. As pessoas (leitores) deveriam lutar mais contra o medo de parágrafos, e ler maravilhas iguais à "Pedra do Reino...". Romance longo pra mim é sempre sinônimo de alegria e prazer elastecidas. abs

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