terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A NAÇÃO É A CIDADE

DOUGLAS MENEZES Ninguém vive nesse conceito abstrato chamado nação. O país é o conjunto de cidades. O povo habita o município. É lá que ele vive tristezas e alegrias. Onde as famílias são constituídas. Onde as tradições são sedimentadas e formam o bem material e, principalmente, imaterial, constituindo este a base espiritual, afetiva das cidades. As raízes de que falamos tanto são os sentimentos surgidos da alma, da afetividade nativista que nos tornam seres sensíveis, ligados ao torrão natal. As raízes nos fazem cantar nossa aldeia, como diria o poeta. Quando nos preocupamos com o fim da identidade do povo em relação ao município é com medo que venhamos a perder esses bens espirituais, notadamente as tradições e o amor natural, que incentiva a cidadania. E, infelizmente, os grandes centros urbanos perderam essa identificação, fruto, talvez, do crescimento desordenado e da imigração sem controle. Mas, mesmo assim, o país é a cidade. E sentimos isto, cada vez que visitamos algumas delas. As marcas registradas que elas possuem. Caruaru continua cheirando a forró e a ter um comércio forte, apesar do crescimento meio caótico. Estar ali, é conviver com a intensa tradição cultural do barro e da música. Caruaru conseguiu da matéria, espiritualidade, que nem o modismo superficial, principalmente na música, conseguiu destruir. O povo sustenta sua identidade como se fosse a sobrevivência. Na verdade, milhares de caruaruenses sobrevivem do bem adquirido através da história. Sua feira não é só uma atividade econômica, mas um ser vivo, com uma alma diferente das feiras de outros lugares. Pulsa como um ente único. Faz o povo vivê-la no corpo e no espírito, alimentando um orgulho saudável e identificador. A nação é a cidade. A escola, o posto médico, o comércio, a religião, os amores, a elite e o povo simples,”o homem e o vassourão limpando o chão da manhã”, como diz o poeta, o bem e o mal habitam o município. Injustificáveis os parcos recursos que a maioria detém. Corpo federativo injusto, o do Brasil. De pires na mão, sempre ele, mendigando o retorno daquilo que lhe pertence. Assim vivem as cidades brasileiras, embora saibamos que não são todas. Nas crises, os bancos são salvos. A indústria automobilística é salva. Algo mais, então, é tirado das cidades. Seus habitantes, na grande maioria, não possuem carros, não têm conta nos bancos. No entanto, veem o posto médico sem funcionar direito. Ou a escola em condições degradantes. A lógica deveria ser outra: fortalecer o município, que é onde o povo vive. O poder próximo à população está na cidade. Lá, também, as instituições que lidam, de uma forma ou de outra, com os munícipes. É no município onde as soluções aparecem para promover o verdadeiro desenvolvimento. A cidade é a extensão da própria família do cidadão. O bem estar municipal é o bem estar de cada residência. E, segundo o escritor Ledo Ivo, “Os homens não amam as cidades que os humilham e sufocam, mas aquelas que parecem amoldadas às suas necessidades e desejos. Uma cidade deve ter a medida do homem”. A nação é o município. A nação é a cidade. Douglas Menezes é professor, formado em Letras pela Unicap e Bacharel em Comunicação Social pela UFPE. Pós-graduado em Literatura Brasileira e Leitura, Compreensão e Produção Textual pela UFPE. Membro da Academia Cabense de Letras.

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