sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O CORDEL ESTRADEIRO


A bença Manoel Chudu!
O meu cordel estradeiro
Vem lhe pedir permissão
Pra se tornar verdadeiro
Pra se tornar mensageiro
Da força do teu trovão.
E as asas da tanajura
Fazer voar o sertão.
Meu moxotó coroado
De xiquexique facheiro
Onde a cascavel cochila
Na boca do cangaceiro.
Eu também sou cangaceiro
E o meu cordel estradeiro
É cascavel poderosa.
É chuva que cai maneira
Aguando a terra quente
Erguendo um véu de poeira
Deixando a tarde cheirosa.
É planta que cobre o chão
Na primeira trovoada.
A noite que desce fria
Depois da tarde molhada
É seca desesperada
Rasgando o bucho do chão.
É inverno e é verão
É canção de lavadeira
Peixeira de Lampião.
As luzes do vaga-lume
Alpendre de casarão.
A cuia do velho cego
Terreiro de amarração.
O ramo da rezadeira
O banzo de fim de feira
Janela de caminhão.
Vocês que estão no palácio
Venham ouvir meu pobre pinho
Não tem o cheiro do vinho
Das uvas frescas do Lácio
Mas tem a cor de Inácio
Da serra da Catingueira.
Um cantador de primeira
Que nunca foi numa escola
Pois meu verso é feito a foice
Do cassaco cortar cana.
Sendo de cima pra baixo
Tanto corta como espana
Sendo de baixo pra cima
Voa do cabo e se dana.

(Cordel do fogo Encantado)

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