sexta-feira, 6 de maio de 2011

O LOBO DA ESTEPE


Uma situação bastante interessante foi descrita por Herman Hesse no livro O Lobo da Estepe, lido por mim há muito tempo e que ainda hoje me intriga, trata-se de uma conversa de Hermínia com Harry, personagens do livro,  quando ela explana: "pretendia grandes feitos, mas descobri que o mundo não passa de um salão burguês" Tai uma excelente dica de leitura.     

"Você, Harry, sempre foi um artista e um pensador, um homem cheio de fé e de alegria, sempre no encalço do grande e do eterno, nunca se contentando com o bonito e o mesquinho. Mas quanto mais despertado pela vida e conduzido para dentro de si mesmo, tanto maior se tornou sua necessidade, tanto mais fundo mergulhou no sofrimento, na timidez, no desespero; mergulhou até o pescoço, e tudo o que no passado conheceu, amou e venerou como belo e santo, toda a sua fé de então nos homens e em nosso elevado destino, nada pode ajudá-lo, tudo perdeu o valor e se fez em pedaços. Sua fé não encontrou mais ar que respirasse. E a morte por asfixia é uma morte muito dura. Não é verdade, Harry? Não é esse o seu destino? [...] Você trazia no íntimo uma imagem da vida, uma fé, uma exigência; estava disposto a feitos, a sofrimentos e sacrifícios, e logo aos poucos notou que o mundo não lhe pedia nenhuma ação, nenhum sacrifício nem algo semelhante; que a vida não é nenhum poema épico, com rasgos de heróis e coisas parecidas, mas um salão burguês, no qual se vive inteiramente feliz com a comida e a bebida, o café e o tricô, o jogo de cartas e a música de rádio. E quem aspira a outra coisa e traz em si o heroico e o belo, veneração pelos grandes poetas ou a veneração pelos santos, não passa de um louco ou de um Quixote." (HESSE, 1975, p. 135-136).       

HESSE, H. O Lobo da Estepe. 10 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.


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