segunda-feira, 12 de abril de 2010

BUDISMO MODERNO

Augusto dos Anjos Tome, Dr., esta tesoura e... corte Minha singularíssima pessoa. Que importa a mim que a bicharia roa Todo o meu coração depois da morte?! Ah! Um urubu pousou na minha sorte! Também, das diatomáceas da lagoa A criptógama cápsula se esbroa Ao contrato de bronca destra forte! Dissolva-se, portanto, minha vida Igualmente a uma célula caída Na aberração de um óvulo infecundo; Mas o agregado abstrato das saudades Fique batendo nas perpétuas grades Do último verso que eu fizer no mundo! SAUDADE... Hoje que a mágoa me apunhala o seio, E o coração me rasga atroz, imensa, Eu a bendigo da descrença em meio, Porque eu hoje só vivo da descrença. À noite quando em funda soledade Minh'alma se recolhe tristemente, Pra iluminar-me a alma descontente, Se acende o círio triste da Saudade. E assim afeito às mágoas e ao tormento, E à dor e ao sofrimento eterno afeito, Para dar vida à dor e ao sofrimento, Da saudade na campa enegrecida Guardo a lembrança que me sangra o peito, Mas que, no entanto me alimenta a vida. Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho de Pau d'Arco, Estado da Paraíba, a 20 de Abril de 1884, e morreu de tuberculose na cidade mineira de Leopoldina, no dia 12 de novembro de 1914, poucos meses depois de ter assumido o cargo de diretor de um grupo escolar. Estimulado pelo pai, que lhe incutiu bem cedo o gosto da leitura e dos estudos, descobriu no campo, em contato com a natureza, os primeiros sinais de uma vocação intelectual profundamente marcada pelos poetas do Romantismo e, mais tarde, influenciada pela Escola do Recife e pelo "Cientificismo", muito forte à época. Cientificismo este que "perpassará" a sua linguagem. Com a publicação de Eu, em 1912, Augusto promove uma "ruptura" com os padrões da poesia Parnasiana, porque ousa falar em "escarro", "vermes", "podridão", "putrefação", numa época em que a literatura dos "poetas de plantão" era conhecida como "Literatura Sorriso". O MEMORIAL AUGUSTO DOS ANJOS é um local onde os visitantes mergulham no ambiente em que o poeta passou a infância e parte da fase adulta. Instalado na casa onde morou a ama de leite de Augusto, o memorial conta com painéis, videoteca, biblioteca com vários livros sobre a obra do poeta paraibano e edições do livro Eu, documentos e raridades. Localização: município de Sapé, terra natal de Augusto, a cerca de 50 Km de João Pessoa. Visitação de terça a domingo, das 7 às 11h e das 13h às 17h.

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