segunda-feira, 20 de maio de 2013

A NITIDEZ POLÍTICA E A DITADURA

  
DOUGLAS MENEZES

  Não é saudosismo, e talvez até seja. Não nego que uma  coisa que me deixa com saudade no período da ditadura, claro, não o regime em si, era a transparência de lado que existia na política. Mesmo abrigados na oposição consentida do MDB, e da situação, expressa pela Aliança renovadora nacional (ARENA), os grupos de direita, centro e esquerda delimitavam seu território. Sabíamos onde estávamos pisando. Os políticos não escondiam suas posições, apesar dos riscos. Lembro, ainda menino, criei verdadeiros ídolos, que nos faziam vibrar pelas  atuações combativas. Estavam lá povoando o sonho de mais liberdade na visão do ainda adolescente, Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Maurílio ferreira Lima, Fernando Lyra, Cristina Tavares, Egídio Ferreira  Lima,  entre tantos outros.

   A luta contra o regime de exceção era uma verdadeira escola política, Como foi pedagógica para milhares de jovens adquirirem consciência democrática. A juventude brasileira entendia valer a pena correr riscos, e os anos de chumbo não eram brinquedo.

  Crescemos nesse ambiente de ebulição, aprendendo que liberdade se conquista na luta e, apesar dos exageros próprios da idade, foi um período de aprendizagem que moldou o caráter, para o bem, de muita  gente. As pessoas aprendiam ter lado, a definir objetivos, inclusive no aspecto cultural. Havia uma “guerra” na música. Definíamos nossa preferência também pela posição dos artistas, pela postura contra ou a favor do sistema. A MPB  fervia, e grandes nomes confirmaram  através dos anos o valor artístico de suas obras. Estão aí, eternos, Vinicius, Chico, Tom, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Vandré, Edu Lobo, e tantos que enriqueceram nossa cultura, a partir da postura política, de buscar a democracia e a liberdade de expressão pela arte.

   Tempo diferente de hoje. Se as conquistas democráticas se configuraram e vivemos num estado de direito quase pleno, por outro lado, abdicamos, e isso é muito ruim, de uma nitidez política necessária a qualquer democracia que se preze. Hoje, partidos que deveriam apresentar uma linha mais definida, como o PT e PCDB, na busca das transformações ainda muito necessárias ao país, Se apresentam como partidos que trocaram um projeto Brasil, por uma continuidade de poder: temos ainda, uma péssima distribuição de renda, uma Educação ruim, uma saúde capenga, que não corresponde às reais necessidades do povo e uma segurança que deixa a desejar. Sem falar da tentativa de controlar e cercear a livre expressão da imprensa.

    Que aqueles anos não voltem mais. Todavia, dá saudade sim, de ver o povo nas ruas pedindo Diretas Já, mobilizado, “sem ódio e sem medo”, numa consciência política pouco vista hoje. Agora, o noticiário é de escândalos, de desvio de dinheiro público de violência e de outras mazelas que nos fazem menor. Além de uma juventude sem rumo. Essa mesma que um dia assumirá o comando do país.

    Que voltemos a ter um confronto nítido de ideias, projetos claros para o país. Que retornemos ao Nacionalismo que tanto acalentou gerações, para que não tenhamos saudade do que passou.

Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras

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