segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O RUÍDO DA MAÇANETA

Poema escrito na década de 60.
Gióia Júnior



Não há mais bela música
que o ruído da maçaneta da porta,
quando meu filho volta para casa.

Volta da rua, da vasta noite,
da madrugada de estranhas vozes,
e o ruído da maçaneta, e o gemer do trinco,
o bater da porta que, novamente, se fecha,
o tilintar inconfundível do molho de chaves,
são um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos,
posso, afinal, dormir e descansar.
Oh! A longa espera, a negra ausência,
as histórias de acidentes e assaltos,
que só a noite, como ninguém, sabe contar!
Oh! Os presságios e os pesadelos,
o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua,
e o longo apito do guarda, medindo a madrugada,
e os cães uivando na distância,
e o grito lancinante da ambulância!
E o coração, descompassado,
a pressentir e a martelar,
na arritmia do relógio do meu quarto,
esquadrinhando a noite e seus mistérios.

Nisso, na sala que se cala,
estala a gargalhada jovem da maçaneta
que canta a festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole a noite imensa,
com todos os ruídos secundários.

Oh! Os símbolos do trinco
e os clarins da porta que se escancarava,
e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e o festival dos passos que ganham a escada!

Nem as vozes da orquestra, e o tilintar de copos,
e a mansa canção da chuva no telhado,
podem, sequer, se comparar
ao som da maçaneta que sorri, quando meu filho volta.
Que ele retorne sempre, são e salvo,
marinheiro depois da tempestade, a sorrir e a cantar.
E que, na porta, a maçaneta cante
a festiva canção do seu retorno,
que soa, para mim, como suave cantiga de ninar.

Só assim, só assim, meu coração se aquieta,
posso, afinal, dormir e descansar.

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