segunda-feira, 11 de junho de 2012

LUIS DE CAMÕES - "ALMA MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE"


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta sida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou

Luís Vaz de Camões que faleceu em 10 de junho 1580 é comemorado como o “Dia de Portugal”, uma justa homenagem feita ao poeta que através da sua obra sempre evidenciou o amor a sua pátria. Questiona-se o conflito entre a lírica e a épica onde aos olhos românticos de vários autores, o lirismo se sobressai. O soneto em tela representa um dos momentos sublimes de inspiração do poeta. Ocorreu provavelmente na sua viagem de Macau para Índia, mais especificamente para Goa, onde Camões responderia contra eventuais insinuações, quando da sua estada na China onde exercia um cargo de confiança, Provedor Mor dos Defuntos e Ausentes. Nessa sua viagem de regresso a caravela naufragou nas proximidades do atual Vietnam na foz do rio Mekong e nesse naufrágio teria morrido Dinamene, a escrava chinesa que vivia com Camões em Macau. Conta a lenda que Camões salvou os manuscritos dos Lusíadas e que não teria salvo a amada, por puro patriotismo. Fontes de novos estudos evidenciaram que Camões não teria como salvar Dinamene, pois segundo relatos e documentos, o poeta sobreviveu graças aos próprios manuscritos, os quais estavam acondicionados em bolsas de couro, vindo a servir como boia naquele momento crucial.

No soneto Alma minha gentil, que te partiste, inspirado em Petrarca, Camões vai ao extremismo platônico e transpõe as barreiras dos mistérios da vida na demonstração do verdadeiro amor, onde ele pede a interferência dela junto ao próprio Criador no sentido de que apresse a sua própria morte. O homem, embora queira sempre atingir o ideal e a perfeição, depara-se com a terrível restrição imposta pela própria condição humana. O poeta chega à conclusão de que não existe o absoluto ou o eterno, restando a ele divagar sobre o real e o ideal, o eterno e o transitório, a morte e a vida, o pessoal e o universal.

Segundo Helder Macedo professor de Estudos Camonianos, "Camões foi o Melhor dos Portugueses”.

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