segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ERROS MÉDICOS



Por Stephen Kanitz
De tempos em tempos um médico comete um erro ao tratar uma personalidade famosa.
O médico é massacrado em público, condenado e julgado muito antes do julgamento legal, por pessoas que não estudaram Direito nem processo jurídico.
Ou seja, é condenado por pessoas que estão cometendo grosseiros erros jornalísticos e legais, mas isto passa em branco. 
Invariavelmente a reputação do médico é  destruída ou seriamente chamuscada.
Com todo o respeito aos familiares que sofreram erros médicos escabrosos, vou colocar alguns pontos que esquecemos quando acusamos nossos médicos de imperícia, imprevidência e negligência.
1. Todo profissional comete erros, erros grassos, evitáveis se prestassem mais atenção.
São fruto de uma noite mal dormida, um filho que nos deixa acordado, uma dívida a pagar, um plano econômico escabroso.
Errar é humano, mas se você for um médico, esta máxima não vale. 
2. Em 1990, quando três economistas do Governo Collor sequestraram nosso dinheiro, um conhecido meu se suicidou, uma senhora vizinha morreu porque não tinha como pagar uma operação na semana seguinte. Muitos amigos me descreveram casos semelhantes.  
Quase todos os Ministros da Fazenda que passaram pelo governo manipularam os índices de correção monetária, usaram as nossas “contribuições previdenciárias” para pagar salários para o funcionalismo público, e hoje ninguém se aposenta com suas próprias contribuições, nem pelo valor imaginado.
O problema no caso de médicos é que a relação entre médico e consequência é direta,  e nas outras profissões não. Este é o problema da profissão.
Um erro num paciente que morre na mesa de operação é bem mais fácil de provar do que um erro de um intelectual que leva uma pessoa a se suicidar, que atrasa o desenvolvimento do país em 10 anos, que aumenta os juros para captar mais e aumenta assim a miséria.
Isto é justo?
Eu cometo vários erros de português a cada artigo que escrevo, só que erros de português não matam seres humanos, a não ser os meus professores de português que morrem de vergonha. (Stephen Kanitz)

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